sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Não há dinheiro no mundo para cobrir montanha de derivativos

“Ninguém sabe que porção dos US$ 55 trilhões de contratos em derivativos de crédito inadimplentes será honrada”, ressalta o escritor norte-americano Chris Floyd, em seu artigo cuja íntegra publicamos a seguir

CHRIS FLOYD

Esta é a fera no escuro que caça os frágeis líderes do mundo desenvolvido: US$ 55 trilhões de dívida não contabilizada, e sem condições de se saber quanto dela está, neste momento sendo jogada pela descarga, levando a economia global com ela. O mito que rapidamente se consolidou é de que a quebra global foi causada por más hipotecas. Isto permitiu que os senhores do ódio da direita culpassem pelo derretimento os programas “liberais” que encorajaram a propriedade de casas a uma pequena percentagem dentre as pessoas de baixa renda (um boato venenoso que parte da mídia preponderante fez um razoável serviço de derrubar), enquanto “progressistas” de várias vertentes denunciavam bancos e outras instituições financeiras por empurrarem créditos super-fáceis para pessoas que realmente não os podiam pagar.
HIPOTECAS
Hipotecas insustentáveis são um fator chave na quebradeira global, claro. E muita gente (a maior parte brancos, diga-se de passagem) que tomou hipotecas que não poderia pagar caso a bolha das moradias viesse a explodir, como aconteceu, da forma mais espetacular. E sim, é inegável que a indústria de serviços financeiros tem tentado as pessoas com crédito fácil do jeito como traficantes de pátio de escola vão passando rapidamente cigarros de maconha.
Tudo isso estava fadado a acabar mal e acabou. Mas somente isso não seria suficiente para ameaçar de destruição todo o sistema financeiro, nem causar o cego e gritante pânico que estrangulou os mercados financeiros, tomou conta do fluxo vital de dinheiro entre bancos, e forçou os governos do mundo ocidental que veneravam o “livre” mercado a levarem a efeito nacionalizações e intervenções que, do ponto de vista meramente numérico, tornam anã qualquer coisa já vista após uma revolução comunista (como nota John Lancaster na London Review of Books, a tomada de Fannie Mae e Fredy Mac sozinha foi “em temos de dinheiro, a maior nacionalização na história mundial”. E isso era apenas o começo.)
O que espalhou medo mortal no coração de mercados e governos não são as más hipotecas, mas o quase incompreensivelmente gigantesco e complexo mercado de “derivativos”, baseado em parte em dívidas hipotecárias – mas também em uma vasta série de outras fontes que foram “securitizadas”, transformadas em commodities fantasmas negociáveis e depois vendidas numa selvagem variedade de formas arcanas.
Isto foi acompanhado de uma expansão de ainda outro mercado de mecanismos de seguros desenhado para proteger estes derivativos – mecanismos que eles próprios se tornaram “securitizados”.
Ao mesmo tempo a indústria de serviços financeiros usou homens da mala pagos por ela no mundo inteiro para afrouxar quase todas as restrições não apenas sobre a securitização e comércio com derivativos, mas também quanto ao montante de dívidas que as instituições podiam assumir para jogar nesses mercados vastamente expandidos e desregulados. Por exemplo, Lancaster destaca que o banco inglês Barclays tem uma razão dívida/capital próprio de 63 para 1:
Imagine que, por um momento, isso fosse traduzido para suas próprias finanças, de forma que você pudesse espichar o que realmente possui de forma inequívoca para tomar emprestado sessenta vezes esse valor. (Eu possuiria uma ilha, e você?)
O resultado de tudo isso tem sido a construção de um castelo de cartas gargantuesco, baseado em algo próximo a nada, e deixado só à sombra da construção da “tempestade perfeita” da ganância, desregulação e corrupção política.
A tempestade agora desabou. O castelo de cartas ruiu, e revelou um buraco de débito com base em derivativos que não podia ser preenchido, literalmente, por todo o dinheiro do mundo, muito menos pelos meros trilhões que os governos nacionais estão freneticamente atirando nele hoje.
Sim, “meros” trilhões. Como Will Hutton explica no Observer:...o coração negro do sistema financeiro global [é] o mercado de US$ 55 trilhões de derivativos de crédito e em particular, os chamados credit default swaps[CDSs], mecanismos rotineiramente utilizados para segurar bancos de perdas em investimentos arriscados. Este é um mercado mais de duas vezes o tamanho do PIB combinado dos EUA, Japão, e União Européia. Até que ele seja limpo e a ameaça tóxica que coloca tenha sido removida, a pandemia continua. Mesmo os bancos nacionalizados, e os países que os apóiam, poderiam ser ultrapassados pela escala de perdas que agora está emergindo.
Tente imaginar isto: um mercado de US$ 55 trilhões agora sob risco de destruição completa. Até dívidas em derivativos em posse de instituições individuais chegam a níveis de bancarrota de uma nação. Por exemplo, um único banco na Inglaterra, mais uma vez o Barclays, tem mais de US$ 2.4 trilhões em CDSs, o mecanismo negociável de “seguros” contra a quebra de títulos. Isto é mais que todo o PIB da Inglaterra. Se todos estes papéis vão mal, não há ações suficientes em todo o país para pagá-los. E isto é apenas um banco em um país.
Hutton dá os detalhes:
Este mercado de créditos derivativos cresceu de forma explosiva durante a última década em resposta ao mercado de US$ 10 trilhões em ações securitizadas – o empa-cotamento de receitas das mais variadas fontes (aluguel de escritórios, cobranças portuárias, pagamentos de hipotecas, estádios esportivos) e sua venda subseqüente como título a ser negociado entre bancos.
Em termos simples, estes títulos têm risco elevado, então o mercado inventou um sistema de seguros. Um comprador de um bônus securitizado pode adquirir o que de fato é um contrato de seguro que o protegerá da quebra do mesmo – um CDS. Mas de forma diferente do contrato abrangente que você possui com uma companhia de seguros, estes contratos de crédito contra quebra de títulos podem ser vendidos ou comprados livremente. Modelos matemáticos complexos estão continuamente estimando o risco e comparando-o com os preços de Mercado. Se o risco cai, os CDSs ficam baratos; se o risco sobe – porque, digamos, uma agência de avaliação declara que a companhia seguradora é menos sólida – o preço sobe. Os fundos de hedge especulam com eles de forma selvagem.
O propósito deles era criar uma solução de mercado para tornar os títulos menos arriscados e, de fato, eles os tornaram mais arriscados, como nós agora testemunhamos. O colapso do Lehman Brothers – a recusa de salvamento teve consequência cataclísmica – significa que ele não pode mais honrar os U$$ 110 bilhões de títulos, nem os US$ 440 bilhões de CDSs que subscreveu. Na sexta-feira, os contratos bichados começaram a ser leiloados, com os compradores pagando insignificantes oito centavos por cada dólar. Colocado de outra forma, existe agora um rombo de US$ 414 bilhões que alguém que tem esses contratos em mãos tem que honrar. E se sua cabeça está rodando agora, acrescente os três bancos falidos da Islândia. Eles não podem mais honrar os mais de US$ 50 bilhões de títulos e muito menos os estonteantes US$ 200 bilhões de CDSs....
Enquanto cada banco tenta passar a parcela tóxica para qualquer outro, o sistema tem que encontrar o dinheiro. Então, será a compensação pelos contratos quase sem valor, e portanto agora dívida não segurada, finalmente realizada – e por quem? E porque ninguém sabe – nem os órgãos de regulamentação, bancos ou governos – quem tem a propriedade dos CDSs e se eles são dignos de crédito, ninguém pode responder a questão. Talvez os que detentores de apólices de seguros consigam o dinheiro que lhes é devido, mas irá isso enfraquecer alguém mais? O resultado - pânico.
Este é o ultra-perigoso e desclinante turbilhão no qual o sistema está trancafiado. É por isso que os preços estão mergulhando. À medida que a recessão se aprofunda, haverá inadimplência sobre os títulos securitizados e o colapso potencial de mais bancos de fora do anel que cerca o G7. Ninguém sabe que porção dos US$ 55 trilhões de contratos de crédito inadimplentes que foram realmente contabilizados será honrada e quem poderá suportar perdas que chegam a trilhões de dólares.
Esta é a fera no escuro que caça os frágeis líderes do mundo desenvolvido: US$ 55 trilhões de dívida não contabilizada, e sem condições de se saber quanto dela está, neste momento, sendo jogada pela descarga, levando a economia global com ela.
INTERVENÇÕES
As intervenções massivas que estamos assistindo podem estabilizar os mercados temporariamente, ou ao menos parar sua queda livre por tempo suficiente para que emerja algum tipo de reestruturação massiva do sistema financeiro global. Ou não. Por que não é de forma nenhuma garantido que a sabedoria, e coragem política, para que surja um sistema mais viável sejam encontradas entre os líderes políticos – todos eles, como notamos aqui no outro dia, devem seu próprio poder e privilégios aos “malfeitores da grande riqueza” e ao culto extremista do fundamentalismo de mercado. Não há indicação em lugar algum de que o círculo de conspiração e corrupção entre governos e o Grande Dinheiro tenha ao menos diminuído, muito menos quebrado, pela catástrofe econômica. Todos os vários planos de salvamento (bailout) e “ações coordenadas” ainda têm como móvel principal a preservação dos malfeitores em seu atual estado de riqueza, privilégio e dominação. Como nota Jonathan Schwarz:
E ainda as elites dos EUA, vão tentar impor tanto ajuste estrutural quanto puderem arrancar, para fazer com que os 80% de americanos de baixo paguem o preço das espetaculares contorções das elites. O Washington Post já começou a escrever sobre como a atual crise demonstra que devemos cortar na Previdência Social. Esperem pela vinda de muito mais disso.
A única tênue esperança que nós temos em uma genuína reforma – ainda que imperfeita, conflitada, e com concessões, que o único tipo de reforma que teremos neste mundo, até que o leão se deite com o cordeiro – é de que a enorme escala do problema real – a fera de US$ 55 trilhões, o próprio potencial de completa destruição da economia global, e do poder de Estado que depende dela – possa forçar alguns políticos a se tornarem apóstatas, renunciarem ao culto do mercado, e morderem as mãos que os alimentaram por tanto tempo.
Ausente esta quase miraculosa possibilidade, ficaremos com mais um inseguro castelo de cartas, estapeados juntos no vôo – em grande medida sob controle dos malfeitores e para seu benefício – enquanto a fera escancara a boca com seus poderosos maxilares, e se prepara para nos engolir inteiros.
Chris Floyd é escritor norte-americano com trabalhos publicados em vários jornais e revistas e pela Universidade de Oxford. É co-fundador do blog Empire Burlesque e editor-chefe do Atlantic Free Press.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Em defesa de São Paulo e do Brasil!


MIGUEL MANSO (*)


Uma avalanche de falências dos maiores bancos e financeiras dos Estados Unidos sacodem as bolsas e o sistema financeiro em quase todos os países do mundo.
Ações de grandes bancos e corporações multinacionais perdem mais da metade do seu valor da noite para o dia.
Novamente, como em 1929, milhões de pequenos investidores, pensionistas, acionistas, poupadores e correntistas vêem suas economias desaparecerem e vão à ruína.
Papéis podres que até pouco tempo eram usados para alavancar operações financeiras para aquisição de empresas e patrimônios reais em países em desenvolvimento como o Brasil, a Rússia e a Índia – a chamada privatização - não param de cair.
Os barões do “mercado livre” novamente assaltam os tesouros públicos, arrombam os cofres dos bancos centrais para salvar seus maiores bancos e agiotas, enquanto aos correntistas só é garantido alguns trocados.
Em poucas horas grandes conglomerados financeiros passam ao controle de duas ou três megacorporações que ficam mais ricas enquanto os Estados ficam mais endividados e a economia arruinada.
É grave a crise americana e a ameaça de recessão e desemprego.
Fazem de tudo para voltar a saquear as economias e os países que aos poucos se libertam de suas garras. Provocam ataques especulativos, juros altos e remessas de lucros exorbitantes. Querem exportar a crise.
Menos de vinte anos se passaram do anúncio do “Fim da História” e da “Globalização sob hegemonia americana” e assistimos a bancarrota do neoliberalismo e seu império.
O projeto e o discurso neoliberal do “livre mercado” e da “competência do privado sobre o público” vão pra lata do lixo.
Os arautos da globalização apregoavam que o único caminho era o da submissão do Brasil ao projeto neoliberal, que tínhamos que privatizar nossas empresas, pois só podíamos contar com os investimentos estrangeiros, que o Estado brasileiro estava falido e que não podíamos crescer mais do que 3% ao ano.
Queriam o fim do Estado brasileiro.
Queriam a desregulamentação dos mercados para deixar os especuladores à vontade.
Queriam que entregássemos em troca de papéis podres todas as nossas empresas públicas, nossas empresas privadas, nosso petróleo, nosso pré-sal, nossa Petrobrás.
Durante os nefastos anos privatistas de FHC, Serra e seus demo-tucanos foi isso o que prevaleceu. Fizeram de tudo para vender o que pertencia ao povo brasileiro e paulista, venderam mais de 128 empresas públicas e entregaram o Estado ainda mais endividado e a inflação descontrolada.
Ainda há poucos meses o povo de São Paulo foi às ruas para impedir a privatização da CESP (Companhia de Energia de São Paulo) que o Governador Serra queria e quer privatizar, para entregá-la aos falidos grupos americanos.
Serra e os demo-tucanos queriam vender a Petrobrás, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, a Eletrobrás, o BNDES, e tantas outras empresas que hoje estão acelerando o nosso crescimento e impedindo que nossa economia sofra o impacto dessa avalanche, que destrói as grandes economias mundiais e principalmente a americana.
Não fora a força e a coragem do povo brasileiro de vencer os preconceitos e acreditar em nosso mais sincero líder – o Presidente Lula - nós não teríamos derrotado FHC, Serra e seus demo-tucanos.
Agora, com a crise americana, dizem que ela vai inevitavelmente acabar com o crescimento da nossa economia, e que não há o que fazer para impedir este desastre. Querem que isto aconteça.
O metalúrgico, nordestino, e pouco escolado Presidente Lula provou que estavam errados.
Os demo-tucanos não se conformam com o caminho independente e soberano de aceleração do crescimento adotado pelo Presidente Lula, baseado nas empresas e investimentos públicos e em nossa própria força. Único e verdadeiro caminho para impedir que o Brasil sofra com a crise externa.
A independência do Brasil foi decidida em São Paulo.
A redemocratização do Brasil foi decidida em São Paulo.
A nova era de crescimento, de empregos, de distribuição das riquezas e de Soberania do Brasil está sendo decidida em São Paulo.
Vencemos os preconceitos nas eleições em 2002.
Vencemos as mentiras e os golpistas nas eleições em 2006.
Vamos apoiar o Presidente Lula e a aceleração do crescimento do Brasil.
Vamos derrotar os neoliberais demo-tucanos e vencer as ameaças nesta eleição.
São estes dois projetos políticos que estão novamente em disputa.
Colocar nossa cidade no rumo do desenvolvimento e da aceleração do crescimento, fortalecer a liderança do Presidente Lula, o Governo Soberano do Presidente Lula e seus aliados, derrotar com coragem e decisão a campanha de mentiras e lorotas do preposto de Serra, o prefeito Kassab ou escancarar nossa cidade para a privatização da Saúde como fazem Serra e Kassab, para a privatização do Metrô como fazem Serra e Kassab, a entrega de 5 bilhões de reais do Tesouro municipal ao Banco Itaú como fazem Serra e Kassab, arruinar o comércio local em benefício dos magazines e hipermercados estrangeiros como fazem Serra e Kassab, a entrega dos melhores terrenos industriais da cidade para as falidas imobiliárias americanas como fazem Serra e Kassab.


Quando FHC e Serra estavam vendendo o Brasil, Kassab estava com eles.


Marta defendia o Brasil.


Quando FHC e Serra estavam cortando 40 bilhões de reais da Saúde, Kassab estava com eles.
Marta defendia mais verbas para a Saúde pública.


Quando FHC e Serra estavam elevando os juros e dando o dinheiro dos nossos impostos aos banqueiros, Kassab estava com eles.


Marta defendia o Bolsa Família.


Quando FHC e Serra estavam arrochando os salários e as aposentadorias, Kassab estava com eles.


Marta defendia os salários e os aposentados.


Quando FHC e Serra destruíam milhões de empregos, Kassab estava com eles.


Marta defendia os empregos e o desenvolvimento com Lula.


Quando FHC e Serra privatizavam as estradas e construíam pedágios, Kassab estava com eles.
Marta fazia o Bilhete Único e o transporte era bom e barato.


Quando FHC e Serra destruíam a educação com a progressão continuada, Kassab estava com eles.


Marta fazia os Céus, os uniformes escolares, o transporte das crianças com o Vai e Volta.


Quando FHC e Serra estão juntos contra Lula, Kassab está com eles.


Marta está com o Brasil e está com Lula!


Nós queremos empregos e a aceleração do crescimento, o desenvolvimento do Brasil Soberano.


Nós queremos que o Estado sirva ao povo brasileiro e não aos parasitas privatistas.


Nós queremos Saúde e Educação de qualidade e não as mentiras de Kassab na TV.


Nós queremos Metrô na periferia e não a privatização do Metrô, os congestionamentos e os pedágios do Serra e do Kassab.


Nós queremos internet para todos, inovação e acesso à tecnologia.


Nós queremos a reindustrialização de São Paulo.


Nós queremos os Céus e escolas técnicas de verdade e não os prédios vazios do Kassab.


Agora você já sabe. E quem sabe, não vota Kassab!


Por isso quem ama o Brasil e nossa Cidade, vota Marta!


São Paulo, 8 de outubro de 2008.

(*) Secretário de Organização do Comitê Central do Movimento Revolucionário 8 de Outubro – MR8

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Sobre o sistema orçamentário de financiamento, por Che Guevara


Em fevereiro de 1964, a revista “Nuestra Industria”, do Ministério da Indústria da República de Cuba, publicou um artigo notável, “Sobre el sistema presupuestario de financiamiento”. Seu autor era o próprio ministro, Ernesto Che Guevara.
Era uma época bastante difícil para os revolucionários, apesar das vitórias conquistadas desde o fim da II Guerra Mundial. Na URSS, com Kruschev, naquele momento – e desde antes do XX Congresso do PCUS, mas sobretudo depois dele – afirmava-se que o mercado e a lei do valor eram intrínsecas ao socialismo, isto é, a todo o período de transição para o comunismo. Hoje, quando podemos ver para onde essa concepção mercantiflera conduziu a URSS e os países do Leste europeu, é fácil perceber que se tratava apenas de rendição diante do capitalismo – o externo, encabeçado pela casta dominante nos EUA, que promovia então uma bilionária, raivosa e chantagista campanha contra a URSS, e os elementos internos atrasados, que resistiam a avançar na construção de uma sociedade coletivista.
Porém, em 1964, isso era muito difícil de ser percebido. Sobretudo para um dirigente de um país bloqueado, agredido militarmente pelos EUA, e aliado da URSS, era difícil dizê-lo. Mas Che encontrou o caminho.
Durante meses, Che estudou os clássicos do marxismo e toda a literatura econômica que pôde obter. Nessa época, o debate em Cuba se intensificava – era um problema prático: como desenvolver o país de forma socialista. Foi isso que o levou às questões teóricas do marxismo sobre a construção do socialismo. Nesse debate, participou o economista francês Charles Bettelheim, defensor do “cálculo econômico”, criticado neste artigo por Che.
A questão pode ser resumida da seguinte forma: pode o socialismo pleno, que é uma sociedade coletivista, ter uma economia de base mercantil, ou seja, individualista, tal como o capitalismo? Colocada a questão dessa forma, a resposta parece óbvia. No entanto, era isso, basicamente, o que defendiam os adeptos do ‘’cálculo econômico” - que as relações entre as empresas de propriedade do povo, assim como entre as empresas e os consumidores, fosse necessariamente através do mercado.
Como observa Che, as relações mercantis são um entrave ao plano, à planificação econômica coletiva, que é a expressão da consciência humana, sem a qual é impossível transitar para o comunismo, chamado por Marx de “o reino da liberdade” - ou, na formulação de Stalin, um estágio da Humanidade em que o homem, ao invés de ser dominado pela economia como por forças cegas da natureza, passa a dominar a economia em prol da satisfação de suas necessidades e anseios materiais e espirituais.
Nos “Problemas Econômicos do Socialismo na URSS”, Stalin, poucos meses antes de seu falecimento, em 1953, havia criticado o projeto para um “Manual de Economia Política”, da Academia de Ciências da URSS, pela introdução de contrabandos mercantis na teoria da construção do socialismo. Em 1964, é o mesmo Manual que Che critica, na mesma direção, embora seja provável que não tenha tido acesso ao livro de Stalin (o livro de Stalin que Che cita na introdução deste artigo é “Fundamentos do Leninismo”). Não é uma surpresa, mas é sempre interessante observar como esses dois revolucionários chegam, no essencial, às mesmas conclusões. Especialmente sobre uma questão fulcral, o problema da lei do valor no socialismo – uma conseqüência das relações de mercado ainda sobreviventes ao iniciar-se a construção do socialismo.
No último dia 8, fez 41 anos que Che tombou na Bolívia, lutando pela liberdade e independência de todos os povos do mundo. Sua luta floresce hoje, de diferentes formas, a começar pela própria Bolívia, onde a revolução do presidente Evo Morales avança sobre a sabotagem oligárquica. Mas também nos outros países da América Latina, com Lula, Hugo, Cristina e outros líderes – e, em outros continentes, como no Congo, país no qual o Che lutou apenas um ano após escrever este artigo.
A publicação destes trechos de “Sobre el sistema presupuestario de financiamiento” é a nossa homenagem a quem, como já se disse de outros, e com mais razão se poderia dizer dele, era um homem como poucos. C.L.

“A planificação centralizada é o modo de ser da sociedade socialista”

Entre o cálculo econômico e o sistema orçamentário de financiamento há diferenças de distintos graus.
A diferença mais imediata surge quando falamos da empresa. Para nós uma empresa é um conglomerado de fábricas ou unidades que têm uma base tecnológica parecida, um destino comum para sua produção, ou, em algum caso, uma localização geográfica limitada; para o sistema de cálculo econômico, uma empresa é uma unidade de produção com personalidade jurídica própria. Uma central açucareira é uma empresa para aquele método, e, para nós, todas as centrais açucareiras e outras unidades relacionadas com o açúcar constituem a Empresa Consolidada do Açúcar.
Outra diferença é a forma de utilização do dinheiro; em nosso sistema ele só opera como dinheiro aritmético, como reflexo, em preços, da gestão da empresa, que os organismos centrais analisarão para efetuar o controle de seu funcionamento; no cálculo econômico ele não é só isso, mas também meio de pagamento que atua como instrumento indireto de controle, já que são esses fundos os que permitem operar a unidade, e suas relações com o banco são similares às de um produtor privado em contato com bancos capitalistas, aos quais deve explicar exaustivamente seus planos e demonstrar sua liquidez.
Em conseqüência do modo de utilizar o dinheiro, nossas empresas não têm fundos próprios; no banco existem contas separadas para sacá-los e depositá-los, a empresa pode sacar fundos, segundo o plano, da conta geral de gastos, e da especial, para pagar salários, mas ao efetuar um depósito, este passa para o poder do Estado automaticamente.
As empresas da maioria dos países irmãos têm fundos próprios nos bancos, que reforçam com créditos dos mesmos, pelos quais pagam juros, sem esquecer nunca que esses fundos próprios, como os créditos, pertencem à sociedade, expressando em seu movimento o estado financeiro da empresa.
Quanto às normas de trabalho, as empresas do cálculo econômico usam o trabalho normatizado por tempo e o trabalho por peça ou por hora (por encomenda); nós estamos tratando de levar todas as nossas fábricas para o trabalho normatizado por tempo, com prêmios por superação da norma.
Partindo de que em ambos os sistemas o plano geral do Estado é a máxima autoridade, podem-se sintetizar analogias e diferenças operativas, dizendo que a autogestão se baseia num controle centralizado global e uma descentralização mais aguçada, se exerce o controle indireto mediante o rublo, pelo banco, e o resultado monetário da gestão serve como medida para os prêmios; o interesse material é a grande alavanca que move individual e coletivamente aos trabalhadores.
O sistema orçamentário de financiamento se baseia num controle centralizado da atividade da empresa; seu plano e gestão econômica são controlados por organismos centrais, em uma forma direta, não tem fundos próprios nem recebe créditos bancários, e usa, de forma individual, o estímulo material, vale dizer, os prêmios e penalidades monetárias individuais e, em seu momento, usará os coletivos, mas o estímulo material direto está limitado pela forma de pagamento da tarifa salarial.
Sobre a lei do valor
Uma diferença profunda (pelo menos no rigor dos termos empregados) existe entre a concepção da lei do valor e da possibilidade de seu uso consciente, colocada pelos defensores do cálculo econômico, e a nossa.
Diz o Manual de Economia Política:
“Por oposição ao capitalismo, onde a lei do valor atua como uma força cega e espontânea, que se impõe aos homens, na economia socialista se tem consciência da lei do valor e o Estado a tem em conta e a utiliza na prática da direção planificada da economia.
“O conhecimento da ação da lei do valor e sua inteligente utilização ajudam necessariamente aos dirigentes da economia a proces sar racionalmente a produção, a melhorar sistematicamente os métodos de trabalho e a aproveitar as reservas latentes para produzir mais e melhor.”
As palavras grifadas por nós indicam o espírito dos parágrafos.
A lei do valor atuaria como uma força cega, mas conhecida e, portanto, moldável, ou utilizável pelo homem.
Mas esta lei tem algumas características:
Primeiro: está condicionada pela existência de uma sociedade mercantil.
Segundo: seus resultados não são suscetíveis de medição a priori e devem refletir-se no mercado em que intercambiam produtores e consumidores.
Terceiro: é coerente em um todo que inclui mercados mundiais e trocas, e distorções em alguns ramos de produção se refletem no resultado total.
Quarto: dado seu caráter de lei econômica, atua fundamentalmente como tendência, e, nos períodos de transição, sua tendência deve ser, logicamente, desaparecer.
Alguns parágrafos depois, o Manual expressa:
“O estado socialista utiliza a lei do valor, realizando por meio do sistema financeiro e de crédito o controle sobre a produção e a distribuição do produto social.
“O domínio da lei do valor e sua utilização em combinação com um plano representam uma enorme vantagem do socialismo sobre o capitalismo. Graças ao domínio sobre a lei do valor, sua ação na economia socialista não leva ao desperdício do trabalho social, inseparável da anarquia da produção própria do capitalismo. A lei do valor e as categorias com ela relacionadas - o dinheiro, o preço, o comércio, o crédito, as finanças – são utilizadas com êxito pela URSS e pelos países de democracia popular, no interesse da construção do socialismo e do comunismo, no processo de direção planificada da economia nacional.”
Isto só pode considerar-se exato quanto à magnitude total de valores produzidos para o uso direto da população e os respectivos fundos disponíveis para sua aquisição, o que poderia fazer qualquer ministro da Fazenda capitalista com umas finanças relativamente equilibradas. Dentro desse marco, todas as distorções parciais da lei cabem.
Mais adiante se aponta:
“A produção mercantil, a lei do valor e o dinheiro só se extinguirão ao chegar a fase superior do comunismo. Entretanto, para criar as condições que façam possível a extinção da produção e da circulação mercantis na fase superior do comunismo, é necessário desenvolver e utilizar a lei do valor e as relações monetário-mercantis durante o período de construção da sociedade comunista.”
Por que desenvolver? Entendemos que durante certo tempo se mantenham as categorias do capitalismo e que seu término não pode se determinar de antemão, mas as características do período de transição são as de uma sociedade que liquida suas velhas amarras para ingressar rapidamente na nova etapa. A tendência deve ser, em nosso conceito, a de liquidar o mais vigorosamente possível as categorias antigas, entre as quais se incluem o mercado, o dinheiro e, portanto, a alavanca do interesse material, ou, melhor dizendo, as condições que provocam a existência das mesmas. O oposto faria supor que a tarefa de construção do socialismo em uma sociedade atrasada, é algo assim como um acidente histórico e que seus dirigentes, para remediar o erro, devem dedicar-se a consolidar todas as categorias inerentes à sociedade intermediária, ficando somente a distribuição da receita de acordo com o trabalho e a tendência a liquidar a exploração do homem pelo homem como fundamentos da nova sociedade, o que por si só é insuficiente como fator do desenvolvimento da gigantesca mudança de consciência necessária para poder afrontar a transição, mudança que deverá operar-se pela ação multifacética de todas as novas relações, da educação e da moral socialista, com a concepção individualista que o estímulo material direto exerce sobre a consciência freando o desenvolvimento do homem como ser social.
Para resumir nossas divergências: consideramos a lei do valor como parcialmente existente, devido aos restos da sociedade mercantil que subsistem, que se refletem também no tipo de troca que se efetua entre o estado fornecedor e o consumidor; cremos que, particularmente em uma sociedade de comércio exterior muito desenvolvido, como a nossa, deve reconhecer-se a lei do valor em escala internacional como um fato que rege as transações comerciais, ainda que dentro do campo socialista, e reconhecemos a necessidade de que este comércio passe já a formas mais elevadas nos países da nova sociedade, impedindo que se aprofundem as diferenças entre os países desenvolvidos e os mais atrasados pela ação do intercâmbio.
Vale dizer, é necessário encontrar fórmulas de comércio que permitam o financiamento dos investimentos industriais nos países em desenvolvimento, ainda que isso venha contra os sistemas de preços existentes no mercado mundial capitalista, o que permitirá o avanço mais paritário de todo o campo socialista.
Negamos a possibilidade do uso consciente da lei do valor, baseado na existência de um mercado livre que expresse automaticamente a contradição entre produtores e consumidores; negamos a existência da categoria mercadoria na relação entre empresas estatais, e consideramos todos os estabelecimentos como parte da única grande empresa que é o Estado (ainda que, na prática, não acontece ainda assim em nosso país).
A lei do valor e o plano são dois termos ligados por uma contradição e sua solução; podemos, pois, dizer que a planificação centralizada é o modo de ser da sociedade socialista, sua categoria definidora e o ponto em que a consciência do homem consegue, por fim, sintetizar e dirigir a economia até sua meta, a plena libertação do ser humano no marco da sociedade comunista.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

"Marcelo amigo, o povo está contigo!"


"Vou fazer um Governo para se orgulharem de mim" - foi com essas palavras que Marcelo definiu sua vitória em declaração para milhares de militantes presentes em seu Comitê de campanha.

O candidato da Coligação Azul, Marcelo Barbieri recebeu por volta das 19h o resultado das eleições municipais em Araraquara. Com milhares de pessoas presentes em seu comitê acompanhando a apuração, Marcelo foi recebido com palavras de ordem como, "Marcelo amigo, o povo está contigo" entre outras.
Após discurso inflamado, ressaltando a necessidade do prefeito de nossa cidade ter canal aberto com o presidente Lula e com outras lideranças políticas, destacou que vai "fazer um governo para essas pessoas se orgulharem de mim, trabalhando dia e noite para os que mais precisam. Vou governar para o povo simples, que me deu essa vitória".
"Sei que vou ser cobrado pelas minhas propostas, mas meu desafio é fazer muito mais do que estava no escrito no programa de governo" - emendou o prefeito.
O resultado final das eleições foi conhecido pela madrugada do dia 6 e colocou Marcelo Barbieri com 44,66%, seguido por Edna Martins com 28,52% dos votos e Waldemar De Santi que apareceu com 23,40%.
Ainda na comemoração da vitória, centenas de carros e motos fizeram uma grande carreata pelas ruas de Araraquara, com fogos e o prefeito agradecendo em carro aberto a população de bairros como Selmi Dey, Adalberto Roxo e outros.
Vereadores
Entre os vereadores mais votados ficaram Elias Chedieck(PMDB), Boi Cabeleireiro(PMDB) e Márcia Lia(PT).
Vale destacar o desempenho que orgulha a juventude e os estudantes de nossa cidade. A garra, determinação, juventude e fé de Rodrigo Martins, que aceitou o nosso desafio e que surgiu como uma importante liderança da nossa juventude. Ao Rodrigo nosso agradecimento e a todos os que acreditaram em sua proposta, os nossos desafios ainda estão lançados, avançamos muito, mas somente com a nossa força, a nossa unidade vai nos garantir avançar com passos ainda mais largos.


(UMESA)