domingo, 31 de janeiro de 2010

“Oposição acabou com a CPMF por maldade com o povo”

O presidente Lula, a ministra Dilma e o governador Eduardo Campos inauguraram na quarta-feira a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) no município de Paulista, em Pernambuco. Em discurso Lula afirmou que isso “é a resposta a alguns políticos brasileiros e de Pernambuco que ajudaram a tirar dinheiro da saúde derrotando a CPMF no Congresso em dezembro de 2008. Segundo o presidente, “para fazer desaforo aos que ajudaram a derrubar a CPMF, o governo resolveu fazer 500 UPAs este ano em todo o Brasil”.
“Alguns políticos brasileiros, e alguns políticos de Pernambuco, com o único objetivo de tentar prejudicar o meu governo, derrotaram, em dezembro de 2008, a CPMF, que era o imposto sobre cheques, que ajudava a pagar a saúde. Eu não conheço nenhum empresário que baixou um centavo no preço do seu produto depois que caiu a CPMF. Então, o problema não era de preço. O problema era de maldade”, denunciou, acrescentando que políticos que agem dessa forma “estão com o prazo vencido”.
“Vejam vocês, o ministro Temporão tinha aprovado o PAC da Saúde. O PAC da Saúde destinava R$ 24 bilhões para cuidar de coisas que nós ainda não cuidávamos, por exemplo, a gente levar médico para cuidar da criança dentro da escola; a gente fazer exame de vista na criança assim que ela nascesse; a gente cuidar das crianças durante todo o período; a gente dar mais atenção à mulher; a gente fazer mais hospital. E eles, com medo de que nós fizéssemos isso, derrotaram. E eles então ficaram rindo e certos de que tinham acabado com o governo derrotando a CPMF”, denunciou.

sábado, 30 de janeiro de 2010

“Estado do Haiti tem condições de comandar sua reconstrução”

Declaração dos 13 países reunidos exige respeito à soberania do país, assim como à ação da ONU. EUA fica isolado por tentar aproveitar tremor para dominar o país. Hillary diz que capacidade do governo deve ser “considerada”










“O Estado haitiano trabalha em condições precárias, mas está capacitado para cumprir com a liderança que a população espera dele”, afirmou o primeiro-ministro do Haiti, Jean Max Bellerive na conferência que reuniu ministros de diversos países em Montreal no dia 25. Além do primeiro-ministro haitiano, e da ONU participaram do encontro ministros de 13 países (Argentina, Brasil, Canada, Chile, Costa Rica, França, México, Peru, Estados Unidos, Uruguai, Japão, Espanha, e República Dominicana).

Bellerive destacou que o apoio de outros países é bem-vindo e que “estamos conscientes de que a responsabilidade pelo nosso futuro recai sobre as mãos do governo e do povo haitiano”, afirmou Bellerive. “Foi criada uma confusão porque o governo haitiano não tem mais nossos prédios à disposição. Mas apesar disso, estamos atuando”.

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, apoiou seu colega do Haiti: “Não estamos aqui para substituir as autoridades legítimas”.

A indignação internacional e dentro dos EUA, onde já houve manifestações em 24 cidades contra a invasão do Haiti com 20 mil soldados quando os haitianos precisam de médicos, enfermeiras e bombeiros, levou a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, a encenar uma desajeitada de composição com o clima reinante em Montreal. “Temos que considerar a capacidade do governo do Haiti de unificar os esforços internacionais”.

A declaração final destacou o reconhecimento do governo do Haiti. Foi marcado um novo encontro em Nova Iorque em março para definir um programa de arrecadações e distribuição dos recursos sob orientação do governo haitiano.

A Aliança Bolivariana para as Américas (Alba), da qual participam países da América Latina e Central aprovou um plano de assistência ao Haiti, e comprometeram-se a entregar US$ 100 milhões O presidente da Venezuela anunciou o perdão da dívida do Haiti pela compra de combustível venezuelano. “O Haiti não tem dívida com a Venezuela; a Venezuela tem uma dívida histórica com essa nação, com esse povo”, disse Chávez.

O primeiro-ministro Jean Max agradeceu à comunidade internacional pela ajuda e fez especial menção a Cuba, Venezuela e República Dominicana, os quais “imediatamente chegaram para ajudar a nossa população afetada”.

Na entrevista concedida à dirigente da organização Democracy Now!, Amy Goodman, o jornalista Kim Ives que editor de Haiti Liberté, repudiou o envio de tropas ao invés de ajuda e lembrou o passado de intervenção dos EUA no país. Para ele, o melhor seria trazer de volta o presidente derrubado por um golpe promovido com apoio norte-americano, Jean Bertrand Aris-tide, em 2004 (este foi precedido de outro que também o derrubara em 1991, também com apoio dos EUA). Sua vinda “criaria um contra-terremoto de esperança e orgulho popular”, diz Kim Ives.

O jornalista ressalta que “impuseram políticas econômicas após expulsarem Aristide, que havia manifestado uma orientação nacionalista para construir a auto-suficiência do Haiti. Os EUA não aceitavam, queriam que se privatizassem as nove estatais [entre elas a indústria de cimento e as telecomunicações].

Kim Ives ressalta que após a revolução de escravos que levou o Hatiti à independência, passaram-se 60 anos e só com Abraham Lincoln o governo haitiano foi reconhecido, depois da Guerra Civil nos EUA. Mas “em 1915, os marines invadiram o país e se apoderaram do banco central e do governo. Ocuparam o país até 1934; depois instalaram a Guarda do Haiti, que funcionou como um braço dos marines para proteger os interesses dos EUA no país. A intervenção conduziu à ditadura de François Duvalier (Papa Doc) que, quando morreu (em 1971), delegou seu título de presidente vitalício a seu filho, Jean-Claude Duvalier (Baby Doc)”.

“A segurança é um pretexto”, destaca Ives, “vemos em todas as partes do Haiti que a população se organiza em comitês populares para limpar, tirar os cadáveres dos escombros, construir acampamentos de refugiados, estabelecer segurança para esse acampamentos”. Quanto ao socorro às vítimas e o início da reconstrução “são coisas que o povo haitiano pode fazer por si e está fazendo para si mesmo”.

Publicado no Jornal Hora do Povo

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O bravo povo do Haiti e a sua incessante luta pela liberdade


Os haitianos têm resistido ao poder econômico e militar dos EUA e de outros desde a sua independência

CARLOS LOPES

Às vezes, um detalhe revela muito sobre o conjunto de um quadro. O professor haitiano Henry Boisrolin, em entrevista na Argentina (onde leciona na Universidade de Córdoba), referiu-se a que o Haiti, até o terremoto de 12 de janeiro, era o maior exportador de bolas de beisebol para os EUA, apesar de ninguém no Haiti se interessar por beisebol - e quase ninguém nem ao menos saber o que é esse jogo. A bola de beisebol, como se sabe, é um produto altamente sofisticado: uma rolha esférica coberta por couro. Como diz Boisrolin: “O Haiti não é um país pobre, é um país empobrecido”.

Como disse o jurista norte-americano William P. Quigley, defensor das vítimas do Katrina contra o governo Bush, “as corporações dos EUA têm, por anos, com a elite haitiana, dirigido estabelecimentos de escravização com dezenas de milhares de haitianos ganhando menos do que US$ 2 por dia”.

O que é ainda menos do que o salário mínimo legal, o equivalente a US$ 3,75 ao dia, ou, mais exatamente, US$ 0,375 por hora, pois a jornada de trabalho mínima é de 10 horas - e esqueçamos, aqui, coisas a que estamos acostumados, como férias, descanso semanal remunerado, etc., etc. Isso não existe nas “indústrias” que fornecem às multinacionais americanas no Haiti (nem mesmo, como observou Michael Moore, naquelas que fazem enternecedores bonecos do Mickey Mouse para a Disney).

Um professor de economia da Columbia University, de Nova Iorque, que esteve em um desses estabelecimentos de escravização, assim o descreveu: “A fábrica é quente, vagamente iluminada, superlotada de gente. O ar é pesado pela poeira e pela lanugem que solta dos tecidos. Não há nenhuma ventilação de que se possa falar. Pilhas de sobras de pijamas, vestidos, saias, entopem cada corredor e cada canto. Os trabalhadores têm caras tristes, cansadas. Eles curvam-se por cima de máquinas de costura antiquadas, algumas com mais de 20 anos, costurando vestidos ‘Kelly Reed’ para serem vendidos na Kmart, e outros produtos para lojas dos Estados Unidos. Vários trabalhadores informaram que tinham trabalhado sete domingos seguidos – em outras palavras, mais de 50 dias diretos, sem um dia de folga, mais de 70 horas por semana - durante a estação mais quente do ano. Perguntado se este horário criou problemas para os empregados ou a fábrica no conjunto, o gerente, Raymond DuPoux, disse que ‘eu é que tenho problemas, porque não posso ir à praia. Portanto, tenho problemas com minha esposa’”. (Eric Verhoogen, “The U.S./Haiti Connection - Rich Companies, Poor Workers”).

Sobre esse “gerente”, como disse o presidente Aristide ao filósofo canadense Peter Hallward, há aqueles, no Haiti, que “sentem-se em dívida de gratidão com um patrão, um chefe. O chefe é americano, um americano branco; e você é preto. Não subestime o complexo de inferioridade que ainda tão frequentemente condiciona essas relações. Você é preto, mas às vezes você chega a se sentir mais branco do que o branco, se você está disposto a ajoelhar-se na frente dos brancos. Isso é um legado psicológico da escravidão” (Peter Hallward, “An Interview with Jean-Bertrand Aristide”, London Review of Books, fev./2007).

Realmente, feitores e capitães-do-mato não são fenômenos raros. Menos ainda naquela minúscula elite haitiana que apoiou Papa Doc durante décadas.

O cineasta norte-americano Kevin Pina, em seu artigo “The people do not buy liberty and democracy at the market” (“O povo não compra liberdade e democracia no mercado” - a frase é do presidente Jean-Bertrand Aristide), refere-se à aprovação, debaixo da pressão das multinacionais, do salário-mínimo de US$ 3,75 por dia como “o ato final de retorno oficial do Haiti ao neoliberalismo”. A rigor, esse salário passou a ser o máximo, e não o mínimo, para os trabalhadores haitianos. O motivo é que o salário por peça foi deixado à solta – logo, ninguém consegue ganhar nem mesmo o salário mínimo, pois as empresas o burlam através desse pagamento por peça. No primeiro mandato de Aristide, no mesmo decreto em que aumentou o salário mínimo em 140%, o presidente determinou que o salário por peça teria que corresponder, pelo menos, ao salário mínimo. Ou seja, tinha feito com que o mínimo fosse realmente o mínimo.

Kevin Pina é autor de uma série de impressionantes documentários sobre o Haiti (onde morou, de 1999 a 2006) e, especialmente, sobre a deposição do presidente Aristide, em 2004, pela invasão das tropas dos EUA. No ano anterior, Pina denunciara que o governo americano estava bancando mercenários para derrubar Aristide (V. “Is the US Funding Haitian Contras?”, The Black Commentator, 03/04/2003). Estava certo.

Como é sabido, após a sua primeira deposição, em 1991, e sua volta ao Haiti, em 1994, Aristide cedeu em parte às pressões econômicas norte-americanas. Mas, na medida em que tornou-se patente o desastre, recusou-se a prosseguir no que percebia como a devastação de seu país - e de seu povo.

Como diz Pina, “que o movimento político Lavalas [o partido de Aristide] opunha-se ao modelo econômico neoliberal que está se desenrolando atualmente no Haiti, é fora de dúvida. A insistência do Fundo Monetário Internacional, do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento em ajustes estruturais que incluíam a eliminação das tarifas de importação e exportação, a liquidação de empreendimentos e empresas estatais, um salário mínimo baixo e uma confiança obsessiva no setor privado como o motor do desenvolvimento econômico foi chamado ‘o plano da morte’.”

E ele continua:

O principal obstáculo ao plano das instituições financeiras internacionais para o Haiti era a própria democracia, na forma do movimento Lavalas, que representava os interesses da maioria dos pobres, e o presidente que eles elegeram duas vezes, Jean-Bertrand Aristide. O governo recusou a privatização de empresas-chave, como a Companhia Telefônica (Teleco) e a companhia de eletricidade (EDH), e enquanto as instituições financeiras internacionais também insistiam em que os programas sociais fossem cortados, o partido Fanmi Lavalas usava os lucros desses empreendimentos estatais para investir em um programa de alfabetização universal e fornecer milhões de refeições subsidiadas aos pobres. Pela primeira vez na história, o Haiti teve uma rede de seguridade que protegia contra a fome e a subnutrição generalizadas. Passando por cima das objeções das instituições financeiras internacionais e da elite econômica predatória do Haiti, a força de trabalho com pagamento mais baixo do hemisfério teve o salário mínimo duplicado duas vezes, no primeiro e no segundo mandato de Aristide. Não por coincidência, ambos os mandatos foram interrompidos por um golpe.

O próprio Arisitide não era, no início, um adversário da privatização. Nas suas próprias palavras: “Quando eles [os americanos] insistiram, via FMI e outras instituições financeiras internacionais, na privatização das empresas estatais, eu estava, em princípio, preparado para concordar – mas eu recusei simplesmente entregá-las, incondicionalmente, a investidores privados. Mais que uma ilimitada privatização, eu estava preparado para concordar com a democratização dessas empresas, de forma que algo dos lucros de uma fábrica ou companhia pudesse ir para as pessoas que trabalhavam nela, ser investido em escolas próximas ou clínicas de saúde, para que os filhos dos trabalhadores tivessem algum benefício” (entrevista a Peter Hallward).

Mas isso era completamente insuficiente para os EUA. Eles queriam transformar o país num campo de trabalho escravo, com alguns feitores haitianos.

Assim, quais são as “empresas haitianas”? Aqui estão alguns exemplos, colhidos por Eric Verhoogen:

- Seamfast Manufacturing - produz vestidos para as redes norte-americanas Kmart e J.C. Penney.

- Chancerelles S.A. - subsidiária da Fine Form, de Nova Iorque, produz sutiãs e cuecas para a Elsie Undergarments, da Flórida.

- National Sewing Contractors - produz pijamas para a Disney e roupas de meninas para a Popsicle Playwear, de Nova Iorque.

- Excel Apparel Exports - produz roupas íntimas femininas para a Hanes, divisão da Sara Lee Corp., vendidas pelo Wal-Mart e pela rede Dillard Department Stores, com sede em Little Rock, Arkansas. Observação de Verhoogen: “Antes do presidente Aristide aumentar o salário mínimo, a cota diária de um trabalhador desta empresa era 360 peças por dia. Agora [depois da deposição do presidente], a cota passou para 840 peças por dia. Os trabalhadores não têm o direito de reclamar do ritmo de trabalho; eles não têm nem mesmo o direito de falar um com o outro”.

- Alpha Sewing - produz luvas para a Ansell Edmont of Coshocton, Ohio, filial da Ansell International of Lilburn, Geórgia.

Kevin Pina retrata vividamente - e tristemente - a situação após o golpe de 2004:

Em todas as partes o movimento Lavalas e os pobres continuaram a manifestar-se contra o golpe, exigindo justiça e que fosse permitido a Aristide voltar ao Haiti. Seus líderes desapareceram, como Lovinsky Pierre-Antoine, no dia 12 de agosto de 2007, ou apodrecem na prisão, como Ronald Dauphin, ou sucumbiram às torturas, como o padre Gerard Jean-Juste no dia 27 de Maio de 2009.

Um dos documentários de Pina é sobre o funeral do padre Gerard Jean-Juste. Milhares de pessoas compareceram – e enfrentaram uma chuva de balas.

William Quigley, professor de Direito da Loyola University New Orleans, após o terremoto, propôs que os EUA pagassem a sua dívida com o Haiti. Pedimos licença ao leitor para uma citação mais extensa.

Quigley lembra que “há mais de 200 anos os EUA têm se esforçado para quebrar o Haiti. Nós devemos ao Haiti. Não é caridade. Nós devemos ao Haiti como uma questão de justiça. Reparações. E não os US$ 100 milhões prometidos pelo presidente Obama - isso é dinheiro de Powerball [loteria americana com prêmios que vão além de US$ 300 milhões]. Os EUA devem Bilhões - com B maiúsculo - ao Haiti. Os EUA usaram o Haiti como uma ‘plantation’. Os EUA ajudaram a sangrar o país economicamente desde que ele se libertou, repetidamente invadiram o país, apoiaram ditadores que abusaram das pessoas, usaram o país como alvo de dumping para nossa própria vantagem econômica, arruinaram suas estradas e agricultura, e derrubaram as autoridades eleitas pelo povo. Os EUA até usaram o Haiti como os velhos latifundiários das ‘plantations’ [isto é, os senhores de escravos], baixando ali para diversão sexual.”

Em seguida, Quigley faz um resumo, uma “breve história” do Haiti - e, particularmente, das relações entre os EUA e o Haiti:

“Em 1804, quando o Haiti conquistou sua liberdade da França, na primeira revolução de escravos bem sucedida no mundo, os Estados Unidos recusaram-se a reconhecer o país. Os EUA continuaram se recusando a reconhecer o Haiti por mais 60 anos. Por quê? Porque os EUA continuavam a escravizar milhões de seus próprios cidadãos e temiam que, se reconhecessem o Haiti, encorajariam a revolução dos escravos nos EUA.

“Depois da revolução de 1804, o Haiti foi alvo, pela França e pelos EUA, de um mutilante embargo econômico. As sanções americanas duraram até 1863. A França, enfim, usou seu poder militar para forçar o Haiti a pagar indenizações pelos escravos libertados. As indenizações foram de 150 milhões de francos. (A França vendeu todo o território da Louisiana aos EUA por 80 milhões de francos!).

“O Haiti foi forçado a tomar dinheiro emprestado nos bancos da França e dos EUA para pagar indenizações à França. Um grande empréstimo aos EUA foi feito em 1947 para quitar a dívida com os franceses. Qual o valor atual do dinheiro que o Haiti foi forçado a pagar aos bancos franceses e dos EUA? Mais de 20 Bilhões – com B maiúsculo - de dólares.

“Os EUA ocuparam e governaram o Haiti pela força de 1915 a 1934. O presidente Woodrow Wilson enviou tropas para invadi-lo em 1915. As revoltas dos haitianos foram esmagadas pelos militares americanos – que mataram, somente em um confronto, mais de 2.000 haitianos. Nos dezenove anos seguintes, os EUA controlaram as alfândegas do Haiti, cobraram impostos e mandaram em muitas das instituições governamentais. Quantos bilhões foram sugados pelos EUA durante esses 19 anos?

“De 1957 a 1986, o Haiti foi forçado a viver sob os ditadores sustentados pelos EUA, ‘Papa Doc’ e ‘Baby Doc’ Duvalier. Os EUA apoiaram econômica e militarmente esses ditadores porque eles faziam o que os EUA queriam e eram politicamente ‘anticomunistas’ – o que agora se traduz como contra os direitos humanos de seu povo. Duvalier roubou milhões do Haiti e contraiu uma dívida de centenas de milhões, que o Haiti ainda deve. Dez mil haitianos perderam suas vidas. As estimativas são de que o Haiti deve US$ 1,3 bilhão de dívida externa e que 40% dessa dívida foi contraída pelos Duvaliers, sustentados pelos EUA.

“Trinta anos atrás, o Haiti não importava arroz. Hoje, o Haiti importa quase todo o seu arroz. Ainda que o Haiti tenha sido a florescente capital do açúcar do Caribe, agora também importa açúcar. Por quê? Os EUA e as instituições financeiras mundiais dominadas pelos EUA – o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial – forçaram o Haiti a abrir os seus mercados para o mundo. Então, os EUA promoveram o dumping no Haiti com milhões de toneladas de arroz e açúcar americano a preço subsidiado – destruindo os agricultores e levando à ruína a agricultura haitiana. Ao arruinar a agricultura haitiana, os EUA forçaram o Haiti a tornar-se o terceiro maior mercado mundial do arroz americano. Bom para os fazendeiros americanos, mau para o Haiti.

“Em 2002, os EUA bloquearam centenas de milhões de dólares em empréstimos ao Haiti que seriam utilizados, entre outros projetos públicos como educação, para estradas. São essas as mesmas estradas que agora as equipes de socorro têm tido tanta dificuldade de percorrer!

“Em 2004, os EUA outra vez destruíram a democracia no Haiti, quando apoiaram o golpe contra o presidente Aristide, eleito pelo Haiti” (Bill Quigley, “Why the US Owes Haiti Billions: The Briefest History”, Countercurrents, 17/01/2010).

Para um breve resumo, faltaria acrescentar o bloqueio americano aos recursos para a água, denunciado pelo Robert F. Kennedy Memorial Center:

“Além de ser a mais pobre nação do Hemisfério Ocidental, o Haiti tem também a pior água no mundo, estando em último lugar no ranking do Water Poverty Index. O Robert F. Kennedy Memorial Center divulgou documentos do Departamento do Tesouro dos EUA, de 4 de agosto de 2008, expondo ações politicamente motivadas pelas quais foram bloqueados empréstimos de US$ 146 milhões que o Banco Interamericano do Desenvolvimento (BID) aprovou para o Haiti. O BID aprovou os empréstimos em julho de 1998, incluindo US$ 54 milhões para projetos urgentes de saneamento e necessidade de água. Entretanto, os documentos mostram que o BID e o staff do Departamento do Tesouro dos EUA buscaram meios de amarrar a liberação dos empréstimos a condições políticas que os líderes dos EUA queriam que o governo haitiano cumprisse. Esta intervenção foi uma violação direta da carta do BID” (V. Project Censored, “US Repression of Haiti Continues” e HP, 15/01/2010).

O Robert F. Kennedy Memorial Center enfatizou que “a água é a principal causa de mortalidade infantil e doenças nas crianças. O Haiti agora tem a mais alta taxa de mortalidade infantil do Hemisfério Ocidental [e] mais da metade de todas as mortes no Haiti foram devidas a doenças gastro-intestinais transmitidas através da água”.

Em artigo publicado em 1996 na revista Brecha, de Montevidéu, Eduardo Galeano, o autor de “As Veias Abertas da América Latina”, conta algumas histórias exemplares sobre o Haiti:

“Em fins do ano passado, quatro deputados alemães visitaram o Haiti. Mal chegaram, a miséria do povo feriu-lhes os olhos. Então o embaixador da Alemanha explicou-lhes, em Port-au-Prince, qual é o problema:

“- Este é um país superpovoado, disse ele. A mulher haitiana sempre quer e o homem haitiano sempre pode.

“E riu. Os deputados calaram-se. Nessa noite, um deles, Winfried Wolf, consultou os números. E comprovou que o Haiti é, com El Salvador, o país mais superpovoado das Américas, mas está tão superpovoado quanto a Alemanha: tem quase a mesma quantidade de habitantes por quilômetro quadrado.

“Os Estados Unidos invadiram o Haiti em 1915 e governaram o país até 1934. Retiraram-se quando conseguiram os seus dois objetivos: cobrar as dívidas do CitiBank e abolir o artigo constitucional que proibia vender plantações a estrangeiros. Então, Robert Lansing, secretário de Estado [do governo Wilson], justificou a longa e feroz ocupação militar explicando que a raça negra é incapaz de governar-se a si própria, que tem ‘uma tendência inerente à vida selvagem e uma incapacidade física de civilização’. Um dos responsáveis pela invasão, William Philips, havia incubado tempos antes a ideia sagaz: ‘Este é um povo inferior, incapaz de conservar a civilização que haviam deixado os franceses’”.

Mas, como ressalta Quigley, “o povo haitiano tem resistido ao poder econômico e militar dos EUA e de outros desde a sua independência. (....) É tempo da população americana se juntar aos haitianos e inverter o curso das relações EUA-Haiti. Esta breve história mostra porque é que os EUA devem Bilhões – com B maiúsculo - ao Haiti. A atual crise é uma oportunidade para a população americana tomar consciência da história do nosso país no que se refere ao domínio do Haiti e dar uma resposta deveras justa”.

O que demonstra que, além de sua bravura, o povo haitiano tem amigos até mesmo nos EUA - e entre os brancos dos EUA, como Quigley. É verdade que os haitianos já sabiam disso. Até porque, até hoje não teve horas que não fossem difíceis. Portanto, sabe reconhecer os amigos. E, sobretudo, sabe reconhecer os inimigos.

*Carlos Lopes é editor do Jornal Hora do Povo

Mutirão de Solidariedade ao Haiti - Araraquara/SP

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Mutirão para vítimas do terremoto do Haiti mobiliza comunidade da Vila Xavier




- Voluntários arrecadaram 128 litros de água e 187 litros de leite



O mutirão realizado na manhã e parte da tarde de hoje (27), nas residências no entorno da Igreja Nossa Senhora Aparecida, na Vila Xavier, mobilizou a comunidade para a ajuda às vítimas do tremor de terra ocorrido no Haiti.
O trabalho focou a arrecadação de água engarrafada, leite longa vida, biscoitos e bolachas. Foram arrecadados: 187 litros de leite longa vida, 11 latas de leite em pó, 181 pacotes de bolachas variadas, 1 litro de suco de laranja, além de 153 itens variados (enlatados e outros). De água foram arrecadados: 2 galões de 20 litros, 3 galões de 6 litros, 14 garrafas de dois litros, 17 garrafas de 1,5 litro, 31 garrafas de 510 mil (totalizando 127,3 litros de água).
Os voluntários percorreram a área com um veículo e também montaram um posto de arrecadação em frente à igreja. De acordo com Denise Gonzaga, Presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, a ação deve ter continuidade. “Pretendemos continuar na Vila Xavier, já que o bairro é muito grande. Iremos percorrer outras áreas também”, afirmou.
Thais de Sousa, Presidente da UMESA, destacou a importância de continuar a campanha de solidariedade. “O Mutirão demonstrou a solidariedade das pessoas com esse povo tão sofrido do Haiti.”
Participaram do Mutirão de Solidariedade ao Haiti, o Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, a ARCCA, a UMESA, o COMJUVE, a Coordenadoria de Participação Popular, SENAI e Associação dos Moradores do Jd. Del Rey e região.

A campanha de arrecadação de alimentos para as vítimas do Haiti, em Araraquara, conta – além dos mutirões que estão sendo iniciados – com postos fixos para doações. Confira os postos:

Confira os pontos de arrecadação dos parceiros da ação:

· Fundo Social de Solidariedade
· Prefeitura Municipal
· Câmara Municipal
· Terminal de Integração
· Banco de Alimentos
· Centro Afro
· Tiro de Guerra
· Cidade Mirim da Polícia Militar
· ONG Fonte (Vila Xavier)
· Guarda Municipal
· Supermercado Bombarda
· Rede Patrezão
· Rede Jaú Serve
· Supermercado Ricoy
· Casa Deliza
· Jornal Tribuna Impressa

UMESA
Rua Carlos Gomes,1299 – Centro
Fone: (16) 3397-4794
Horário: das 13h às 17h

SINDPD
Rua Japão, 289 - Jardim Primavera
Fone: (16) 3331-1454
Horário: das 8h às 12h, e das 13h30 às 17h30

SINTHORESSARA
Av. 22 de Agosto, 527 - Vila Xavier
Fone: (16) 3332-2763
Horário: das 8h30 às 11h30, e das 13h às 18h

Associação de Moradores do Jardim das Hortênsias
Portal do Saber da Escola Municipal Henrique Scabello
Av. Remo Frontarolli, 450 - Jardim das Hortênsias
Horário: segunda a sexta: das 8 às 21h; sábado: das 8 às 17h

COMJUVE, Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, ARCCA e Conselho do Orçamento Participativo
Centro de Participação Popular Cláudio Campos – OP (Av. Duque de Caxias, 242 – Centro)
Fone (16) 3322-0976 / 3332-0343
Horário: das 8h às 18h

Associação de Moradores das regiões do Jardim Ieda e Cruzeiro do Sul
- PSF do Cruzeiro do Sul
Rua Bruno Opice Junior, 80 - Cruzeiro do Sul
Fone:33226365
Horário: 7h30 às 16h
- PSF do Ieda
Rua Professor Celso Eduardo Moraes Barbosa,115 - Jd. Ieda
Fone: 3322-5848
Horário: das 8 às

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O “medo” inventado pela mídia hegemônica e pelos tucanos

Emerson Pires Leal*

As barricadas começam a ser levantadas. O que me chamou a atenção nos últimos dias foi um paralelo inventado pela mídia e pelos tucanos visando a objetivos eleitorais. Exemplo de manchetes da mídia: “Contra-ataque tucano – PSDB resolve reagir a provocações de Lula e Dilma de que os adversários irão acabar com conquistas administrativas.

Na seqüência, alguns jornalões escrevem que Lula e Dilma estariam “colando no PSDB o selo do medo, num repeteco da campanha de 2002, quando os tucanos usaram a estratégia contra Lula”.

Tudo é construído como se o PT tivesse, maquiavelicamente, pensado uma forma de provocar os tucanos para desgastá-los. Vejamos, contudo, a seqüência dos fatos.

Sérgio Guerra, presidente nacional do PSDB, deu uma entrevista à Veja afirmando que, em caso de vencerem as eleições, os tucanos farão uma “ampla mudança nas políticas econômica e monetária, além de alterar o câmbio”; disse ainda que acabariam com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Álvaro Dias (cacique tucano) afirmou: “O PAC é um balão que inchou, explodiu e não subiu”.

Para completar, Arnaldo Madeira veio com esta pérola: “A Dilma virou candidata de repente tirada do bolso do Lula. Ela é uma candidata que ninguém conhece”; seria „uma candidata pesada, inábil e sem discurso. E o PSDB acrescenta essa „tirada brilhante: “O governo Lula está esquizofrênico. Uma hora faz um discurso ufanista, noutra do medo (...)”.

Diante de tantas provocações de quem não tem proposta – ou seja, de que não tem um „discurso programático, como disse Lula –, óbvio que eles mereceram esta resposta, diga-se de passagem, firme, mas elegante e equilibrada da ministra Dilma Rousseff: “É estarrecedor propor o fim do principal programa de infraestrutura do governo por questões político-eleitorais. Foi durante o governo do PSDB, do presidente Fernando Henrique, que pouco se investiu em infraestrutura no País”. E é verdade!

Pergunto: será que procede o paralelo inventado pelos tucanos e pela mídia sobre a „estratégia do medo? Ora, o que se observa é uma inversão de valores: uma resposta à altura a uma forte provocação dos tucanos ao governo Lula e à Dilma, é transformada pelas elites em „provocação do PT para atemorizar a população. Em síntese, é a velha tática da direita para enganar a opinião pública.

Tal comportamento se explica pelo desespero dos tucanos. Primeiro, estão sem discurso (pensam até em sequestrar bandeiras da esquerda); segundo, seu provável candidato, José Serra, continua caindo nas pesquisas; terceiro, Dilma – a “inábil”, a “desconhecida”, a “sem-discurso” – continua subindo, tendo já ultrapassado a casa dos 20%!

Quem a viu em São Carlos ano passado, seja na cerimônia de recepção a ela e ao ministro Temporão, seja durante a visita às obras da segunda etapa do Hospital-Escola, deve se lembrar de seus discursos firmes e cheios de conteúdo, além de sua simpatia e habilidade no trato dos assuntos políticos (o que é muito para quem nunca foi candidata a cargos eletivos). Ou seja, se medo existe, é dos tucanos perderem as eleições.

Emerson Pires Leal, é vice Prefeito da cidade de São Carlos e Doutor em Física Atômica e Molecular.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Mutirão de Solidariedade agitará as ruas da Vila Xavier

Estudantes, moradores e Prefeitura visitarão casas pedindo alimentos que serão enviados ao Haiti.

Um verdadeiro Mutirão de Solidariedade. Essa será a palavra de ordem de diversas entidades de Araraquara pelas ruas do bairro Vila Xavier. Organizados pela UMESA, Conselho das Mulheres, COMJUVE, COP, Associação dos Moradores do Jd. Del Rey e do Jd. das Hortênsias, além dos sindicatos Sinthoressara e Sindpd, os voluntários irão pedir apoio dos moradores com doações de ÁGUA ENGARRAFADA, LEITE LONGA VIDA, BISCOITOS, BOLACHAS E ENLATADOS.
Os alimentos serão enviados para o Haiti, que há cerca de 10 dias&nb sp;sofreu com o maior terremoto dos últimos 200 anos, sendo o maior da história da ONU. Por conta do terremoto, cerca de 1,5 milhões de pessoas ficaram desabrigadas e mais de 110 mil mortas. Por todo o mundo, entidades mobilizam ajuda para as famílias que sobreviveram e sofrem com a falta de estrutura.
Segundo Thais de Sousa Silva, presidente da UMESA, "neste momento é fundamental a solidariedade com o povo do Haiti. Nossa missão é levar esperança a essas famílias."
Denise Gonzaga, Presidente do Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres ressaltou a importância da mobilização popular, "o povo brasileiro sempre foi destaque no mundo por sua generosidade e solidariedade e essa campanha reafirmará isso."
"A nossa luta é para que o povo do Haiti tenha dias melhores. Araraquara e o Brasil tem uma grande contribuição a dar neste m omento", completou Walter Strozzi, presidente do Conselho Municipal da Juventude.
O Mutirão Araraquara de Solidariedade fará concentração para sair as ruas da Vila Xavier no próximo dia 27 de Janeiro às 9h na praça da Igreja Nossa Senhora Aparecida.
Os alimentos arrecadados serão enviados ao Fundo Social de Solidariedade, que coordena a campanha na cidade. Além das entidades e da Comunidade da Igreja Nossa Senhora Aparecida, participarão do mutirão a Prefeitura Municipal de Araraquara, por meio do Fundo Social de Solidariedade e da Coordenadoria de Participação Popular.

Diretoria de Comunicação da UMESA

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Monopólios dos EUA, FMI e pobreza no Haiti

A imprensa, como é o caso do The Guardian de 18 de janeiro, tem afirmado que “a situação de pobreza e fragilidade do Haiti estão na origem da enorme escala de horror que hoje se vive em Porto Príncipe”, mas não aponta nenhuma causa ou responsável por essa situação.

Na arrogância imperial dos EUA, na ganância dos monopólios norte-americanos e na política neoliberal imposta pelo FMI ao Haiti está a raiz de tamanha pobreza. É isso que a mídia monopolista tenta esconder.

Talvez o jornal britânico considere que não é bom que seus leitores se lembrem que o Haiti foi invadido militarmente pelos EUA, que os EUA patrocinaram vários golpes de estado e apoiaram ditaduras como a dos Papa e Baby Doc com os seus tonton macutes, que treinaram bandos paramilitares e, entre outras atrocidades cometidas contra o povo haitiano, desmontaram o Estado.

O país que já foi grande produtor e exportador de açúcar teve sua produção desorganizada e sua economia controlada pelos EUA há mais de meio século. Quase tudo no Haiti é importado dos EUA por empresas norte-americanas que também controlam as exportações do país.

O FMI completou o serviço exigindo que o Haiti dissolvesse o exército e aceitasse que ONGs, em vez do governo, recebessem dinheiro e ajuda para aplicar no país.

Sem Estado, sem exército, sem indústria, sem saúde, sem escolas, sem saneamento básico, sem controle do seu comércio exterior o Haiti ficou na mais absurda pobreza, impossibilitado de crescer e dependente de ajudas internacionais esporádicas.

O Bid se gaba de nunca ter saído do país e “ter experiência de trabalhar com o governo”. Já disputa ser o principal canal para receber e repassar aos haitianos os recursos financeiros das doações internacionais.
Com a população desempregada ou subempregada, 80% dela vive abaixo da linha de pobreza.

No dia seguinte ao terremoto um jornalista da Globonews dizia que “os EUA consideram que os haitianos são hostis a eles e que, ao contrário, são muito receptivos aos brasileiros”, e se perguntava qual seria o motivo...

Em outro noticiário televisivo não foi possível evitar o registro de um momento de profunda alegria de um haitiano que acabara de resgatar dos escombros uma mulher com vida. Feliz, ele comemorava. E nos comovia.

Em meio a tantas mortes o povo haitiano celebra a vida.

Pouco ou quase nada é dito sobre a coragem e a heróica resistência daquele povo que em meio a tantas perdas, solidários, se juntam para enterrar os familiares mortos, dividem um pedaço de pão ou um copo d’água, se unem, se apóiam e se fortalecem em meio a tragédia, pois sofreriam muito mais se não fosse assim.

Os monopólios de mídia têm insistido na “falta de coordenação em meio ao caos”. Alardeiam o descontrole, os saques e as ações de gangues.

Edmond Mulet, guatemalteco diplomata da ONU, em entrevista coletiva ontem em Porto Príncipe, disse que “a violência na capital não é generalizada, não há saques generalizados e não há gangues controlando a cidade como alguns meios de comunicação irresponsavelmente estão reportando” e que isso prejudica as ações para atender as vítimas.

O General Floriano Peixoto, brasileiro e comandante militar da Missão da ONU afirmou que “a situação está sob controle”, é menos grave do que a divulgada pela imprensa e que “os casos mais graves de violência na cidade não são generalizados”.
A imprensa tem subestimado o papel do Brasil na importante Missão no Haiti e o fato de que nas primeiras horas, na hora mais difícil em que aconteceu a catástrofe era o Brasil que estava ao lado dos haitianos. Lá 21 brasileiros perderam a vida ajudando o povo irmão, honrando o Brasil e os brasileiros. Nossos soldados junto ao povo cavavam os escombros com as próprias mãos em busca de sobreviventes e salvavam vidas. Deles, das tropas do nosso Exército muito nos orgulhamos.

O Presidente Lula não titubeou e no mesmo dia do terremoto chegaram a Porto Príncipe os primeiros aviões com médicos, bombeiros, comida, água, remédios e hospitais de campanha vindos do Brasil.

No Haiti não há escavadeiras para remover escombros, mas a primeira providência dos EUA foi enviar um porta-aviões com armas, dois navios de guerra, tomar o controle do aeroporto e do espaço aéreo e garantir o privilégio para cidadãos norte-americanos entrarem e saírem do país.

Outro problema gerado pelos EUA e apontado pela canadense Kim Bolduk, uma das coordenadoras do programa de distribuição de alimentos da missão da ONU, é a distribuição de alimentos jogados dos aviões em vôos rasantes. Ela pediu aos EUA que deixasse de fazer a distribuição de alimentos jogando pacotes de comida e víveres em certos lugares, pois esse método estava causando muitos problemas e tumultos, prejudicando a manutenção da ordem. Além do mais é um desrespeito com a população que tem de correr de um lado para outro sem saber onde cairão os alimentos. Só os pegam os que correm mais e são mais fortes.

Raymond Joseph, Embaixador do Haiti nos EUA também solicitou o fim dessa prática que “está provocando desordens”.

Os EUA aproveitaram a oportunidade para enviar mais dez mil soldados. “Como o Haiti é muito perto de Miami é preciso controlar uma provável fuga de haitianos para a Flórida. Desse modo não poderão dizer que os EUA estão invadindo o Haiti”, afirmou um jornalista no New York Times.

Dez mil soldados é uma nova invasão. Uma demonstração de que os EUA até hoje não aceitaram a derrota de terem tido que sair do Haiti para que lá ficasse a Missão da ONU composta por 36 países e liderada pelo Brasil.

A imprensa monopolista justifica. Afinal, o Haiti precisa de ajuda. Daí a necessidade de mostrar o pânico, o desespero, a falta de controle, a ação de bandidos roubando os bolsos dos cadáveres e tudo que deponha contra o Haiti, a Missão da ONU e sirva de desculpa para a ocupação do país pelas tropas dos EUA.

O momento agora é de reconstrução e recuperação do país e do Estado haitiano reforçando sua capacidade de impulsionar e induzir o desenvolvimento do Haiti como nação livre e independente. E a presença de dez mil soldados americanos “no terreno”, forçando a entrada sem autorização da ONU se constitui no maior obstáculo a isso.

ROSANITA CAMPOS - Publicado no Jornal Hora do Povo

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Entidades iniciam campanha de solidariedade ao povo do Haiti!


Entidades arrecadam água, leite longa vida e bolachas e biscoitos.

Reunidos no ultimo dia 20 de janeiro, representantes da UMESA, Conselho Municipal da Juventude, Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, Sindpd, Sinthoressara, Associação de Moradores do Jardim das Hortênsias,Conselho do Orçamento Participativo,Associação dos Carroceiros, Associação de Moradores da Regiões do Jardim Ieda e Cruzeiro do Sul discutiram a ampla necessidade da solidariedade ao povo do Haiti.

Ações como divulgação entre seus associados e ampliação dos postos de arrecadação,as entidades discutiram ainda atividades para sensibilizar a população, como mutirão nos bairros.

Serão arrecadados alimentos prioritários segundo a avaliação das entidades, sendo eles Garrafas de água, Leite Longa Vida e bolachas e biscoitos.

O Haiti, um dos principais países Caribenhos que serviu inclusive de referência a Revolução Francesa, tornou-se após Ditaduras e Espoliações um dos países mais pobres.Se já não bastasse todos os males sofridos, o país foi vítima recentemente com o maior terremoto dos últimos 200 anos e o maior da história da ONU.

A população Brasileira sempre foi destaque no mundo por sua generosidade e solidariedade, este momento é fundamental á participação de todos.

Os alimentos arrecadados serão encaminhados para o Fundo Social de Solidariedade.

Os postos de arrecadação serão:

UMESA: Rua Carlos Gomes,1299 - Centro - Horário das 13h ás 17h - Fone (16) 3397 4794

SINDPD: Rua Japão,289 Jardim Primavera - Horário das 8h ás 12h e 13:30h ás 17:30h - Fone: (16) 3331-1454

SINTHORESSARA: Av. 22 de Agosto, 527 - Vila Xavier - Horário das 8:30h ás 11:30h e 13h ás 18h - Fone (16) 3332-2763

Associação de Moradores do Jardim das Hortênsias : Portal do Saber da Escola Henrique Scabelo

COMJUVE, Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, Associação dos Carroceiros e Conselho Orçamento Participativo: Av. Duque de Caxias, 242 - Centro (Casa dos Conselhos e Orçamento Participativo) Horário das 8h ás 18 h - Fone (16) 3322 0976 / 3332 0343

Associação de Moradores da Regiões do Jardim Ieda e Cruzeiro do Sul : PSF do Cruzeiro do Sul e PSF do Ieda.

Carteira da UMESA 2010 já pode ser confeccionada.

Entidade inicia confecção no dia 21 de Janeiro

A União Municipal dos Estudantes Secundaristas de Araraquara, entidade que representa os estudantes dos ensinos básico, técnico-profissionalizantes e pré-vestibular das escolas públicas e privadas de nossa cidade inicia no próximo dia 21 de Janeiro a confecção e renovação da Carteira Nacional de Identificação Estudantil. A UMESA no ano de 2010 está antecipando a confecção das Carteiras de Estudante, a de 2009 tem validade até Março deste ano. A ação faz parte do planejamento da nova diretoria da entidade municipal que visa ampliar o atendimento ao estudante e garantir que ele possa participar dos principais eventos do ano. A Carteira é valida para pagar meia entrada em shows, teatro, atividades culturais, esportivas, jogos de futebol na Arena da Fonte Luminosa e ainda conta com diversos estabelecimentos que oferecem descontos e vantagens mediante a apresentação do documento.

A Carteira de Estudante é a principal conquista das entidades estudantis brasileiras. A conquista além de garantir direitos aos estudantes, fortalece a entidade que os representa no município e na sua própria escola. É somente com os recursos da Carteira de Estudante que a UMESA consegue chegar nas escolas e organizar suas atividades, ter jornal, site, eleições dos Grêmios, palestras, gincanas e outras ações.

O estudante que for confeccionar a sua Carteira da UMESA deverá procurar a sede da entidade, que fica localizada na Rua Carlos Gomes, 1299 - Centro (em frente a UNIARA). O funcionamento é das 13 às 17h de segunda à sexta-feira. Para confeccionar a Carteira 2010, o estudante deverá ainda no ato de inscrição levar uma cópia do RG, Declaração de Matrícula datada pelo menos no mês de solicitação da Carteira de Estudante e a Taxa de Confecção.

Para o ano de 2010, a taxa de confecção da Carteira da UMESA será cobrada da seguinte forma: o estudante que solicitar a Carteira até o dia 26 de Fevereiro, pagará a quantia de R$ 12,00. O estudante que solicitar a Carteira da UMESA a partir desta data pagará o valor de R$15,00. A taxa pode ser recolhida no ato de solicitação da Carteira na sede da UMESA ou também nas lotéricas e/ou no Banco Caixa Econômica Federal.

Diretoria de Comunicação da UMESA

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

A propósito de vazamentos políticos


Emerson Pires Leal*

No finalzinho de 2009 o JPMorgan Chase – um dos principais bancos norte-americanos – deu um aviso „aos navegantes‟: “nosso candidato no Brasil é José Serra”. Disse mais: „Dilma Rousseff é uma candidata muito competitiva; [o problema é que] ela poderia elevar o grau de intervenção do Estado no setor privado (então, não serve para ‘nós’)‟. O PSDB – bem o sabemos – é o principal partido que representa os interesses das grandes corporações multinacionais no Brasil. Por outro lado, o Estado, na concepção das elites dominantes, deve servir apenas para atender aos interesses dessas elites. Neste sentido, os lucros devem ser privatizados e os prejuízos, como sempre, socializados. Foi assim, por exemplo, na crise de 2008 que fez tremer as bases da economia das grandes potências com reflexos nas do resto do mundo. O Estado – isto é, o povo – teve de investir bilhões para salvar bancos e outras grandes corporações.
Para eles, chegou a hora de jogar fora o bagaço da laranja (tradução: é preciso eleger Serra ou qualquer outro candidato das elites dominantes. O resto, é resto).
Em resumo: as peças do xadrez das eleições de 2010 já estão em movimento há algum tempo – como não poderia deixar de ser. Agora mesmo estamos assistindo a mais um movimento no tabuleiro relacionado com o decreto que o presidente Lula assinou criando a Comissão Nacional da Verdade, prevista no 3º Plano Nacional de Direitos Humanos. A idéia é resgatar um direito fundamental que o ex-ministro Nilmário Miranda definiu com muita precisão.
“Na democracia – disse ele –, o poder militar tem de se submeter ao poder civil. O direito à informação e aos corpos dos desaparecidos políticos é universal e não poderá ser exercido sem desagradar a parte dos militares que participou da repressão”. Só que os militares não pensam assim. O episódio da criação da Comissão para apurar crimes e violações dos direitos humanos no período entre 64 e 85 está sendo utilizado pela oposição para tentar debilitar o governo federal e, por tabela, a candidata Dilma Rousseff.
Em síntese, o conluio entre a mídia e representantes das Forças Armadas que ocorreu após Lula ter decidido avançar no projeto que discute a hipótese da abertura de arquivos da ditadura, residiu no seguinte: a Folha de S. Paulo publicou as conclusões de um relatório técnico da Força Aérea Brasileira (FAB) revelando para o público a preferência da „caserna‟ pelo avião sueco Gripen. O vazamento desta informação teve o objetivo de deixar o presidente Lula numa saia justa.
A esperança, é que o pequeno recuo que o Presidente teve de assumir na elaboração do decreto que criou aquela Comissão não venha a significar um prejuízo muito grande quando o projeto for discutido no Congresso Nacional. Para isso, é preciso que a sociedade se mobilize para dar respaldo às bancadas do Congresso sintonizadas com os interesses do nosso povo.

*Emerson Leal – Doutor em Física Atômica e
Molecular e vice-prefeito de S. Carlos
e-mail: emersonpleal@gmail.com

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

UMESA reúne diretoria e discute planos para 2010.

Reunida no Centro de Participação Popular Cláudio Campos, a UMESA reuniu a sua diretoria pela primeira vez no ano de 2010. A discussão ficou em torno do planejamento da entidade para o ano e o planejamento do processo de Carteiras de Estudante.
O Cine Clube da UMESA será organizado de forma quinzenal durante o ano de 2010, devendo ter um calendário trimestral, além de um Cine Clube Volante que chegaria até as escolas levando determinado tema e discussão para a escola.
Além de discutir sobre o Cine Clube, a direção da entidade municipal, discutiu a participação nas ações da Prefeitura Municipal de Araraquara no sentido de orientação a juventude da cidade durante as festividades de Carnaval. Ainda sobre Carnaval, a diretoria da UMESA deve visitar a UMES/SP que tradicionalmente organiza o Bloco de Carnaval UMES Caras Pintadas.
Eleições dos Grêmios, Encontros Municipais, Palestras, Debates, Torneios, atividades culturais serão alguns dos ingredientes para o ano internacional da Juventude - ONU.
A Carteira da UMESA no ano de 2010 chega junto com as aulas e o Carnaval. A partir da primeira semana de aulas os diretores da entidade estudantil irão montar uma ampla campanha nas escolas para a confecção das Carteiras de Estudante.
Após 9 anos sem haver mudanças no valor da Carteira Nacional de Identificação Estudantil da UMESA, a diretoria avaliou a necessidade do aumento no valor do documento. Isso porque, depois de anos, o custo para confecção passa a chegar próximo do valor que é repassado ao estudante, não deixando condições da entidade chegar nas escolas e organizar os trabalhos. O aumento no valor será em breve. Os estudantes que aproveitarem o início das aulas para fazer a sua Carteira pagará somente o valor de R$12,00. O estudante que confeccionar a Carteira da UMESA após o dia 26 de Fevereiro, pagará o valor de R$15,00 - que passará a ser o valor cobrado durante o ano de 2010 para confecção da Carteira. Para fazer a Carteira da UMESA, o estudante deverá apresentar na Sede da entidade, que fica na Rua Carlos Gomes, 1299 - Centro, portando cópia do RG, declaração de matrícula em escolas do ensino básico e/ou técnico profissionalizante da cidade de Araraquara/SP, uma foto 3X4 e a taxa de Confecção (até 26 de Fevereiro será R$12,00 e após a data o valor de R$ 15,00).
A diretoria da UMESA volta a se reunir na próxima semana em dia a ser marcado.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O luxo e o lixo da periferia


O antropólogo Hermano Viana escreveu o anúncio do programa “Central da Periferia”, da TV Globo. No texto, Viana anuncia a grande descoberta do povo e da cultura popular. Essa descoberta é a razão e tema do programa e do site Overmundo (organizado por ele próprio), e tem sido assunto de variados textos do antropólogo em veículos como o site Bregapop, e outros mais.

Mas que povo, que cultura popular, afinal? Que descoberta é essa, que o levou a escrever: “Não tenho dúvida nenhuma: a novidade mais importante da cultura brasileira na última década foi o aparecimento da voz direta da periferia falando alto em todos os lugares do país. Agora ... a favela responde: `Qualé, mané! O que não falta aqui é cultura! Olha só o que o mundo tem a aprender com a gente!`... há milhares de grupos culturais, surgidos na periferia, que em seus trabalhos juntam – de formas totalmente originais e diferentes a cada caso – produção artística e combate à desigualdade”?

Seguramente não é o povo brasileiro, aquele povo melhor porque mestiço, orgulhoso de sua mestiçagem, como ensinou o mestre Darcy Ribeiro, e que burilou compositores como Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Cartola, Donga, Candeia, Carlos Cachaça, Nelson Sargento, Ernesto Nazareth, Nei Lopes, Pixinguinha, Gordurinha, Assis Valente, Braguinha, Pena Branca e Xavantinho, Jararaca e Ratinho, Geraldo Filme, Adauto Santos, Noel Rosa, Cartola, Xisto Bahia, Walter Alfaiate, etc.

Ou o antropólogo não sabe que o Repente, o Baião, o Côco, o Maracatu, o Samba, o Choro, a Toada, a Rancheira Gaúcha, o Calango Mineiro, o Frevo, o Lundu, o Maxixe, a Congada, o Jongo, a Modinha de Viola, etc. são resultado de milhares de grupos culturais, surgidos na periferia econômica, que em seus trabalhos juntam – de formas totalmente originais e diferentes a cada caso – produção artística e combate à desigualdade, fazem crítica de costumes, enaltecem a solidariedade, cantam o amor e, acima de tudo, reverenciam a beleza e a graça brasileira e a garra e a abnegação do brasileiro?

Saber, saber mesmo, não sabe. Não é o primeiro, nem será o último intelectual a estranhar e se atrapalhar ao ver, ao vivo, o povo real, muito diferente daquele povo conceito que, durante anos e inesquecíveis tertúlias, se encaixou direitinho em elogiadas teses acadêmicas.

Mas não foi só a ignorância que deixou o antropólogo aparvalhado com o estardalhaço do tecnobrega paraense, do funk carioca, do forró eletrônico cearense, do arrocha baiano, do lambadão cuiabano, da tchê music gaúcha, do hip hop. Hermano Viana selecionou cuidadosamente o que queria ver. Foi ao Norte e descobriu o tecnobrega paraense, mas não percebeu o Carimbó ou o Caiapó; viu a festa das aparelhagens mas desconheceu o Círio de Nazaré. Passou pelo Nordeste e deslumbrou-se com o forró eletrônico cearense, mas não percebeu o Forró de verdade, a Vaquejada, o Frevo, o Repente, o Baião, o Pastoril, a Folia de Reis, o Xote, o Xaxado, o Maracatu, o Boi, a Festa do Divino...

Passou os olhos pela Bahia e contemplou o arrocha baiano, mas não soube do Côco, do Samba, do Candomblé, da Embolada, da Capoeira. Espreitou as favelas do Rio de Janeiro e vislumbrou até uma futura nova indústria fonográfica tributária do funk, mas esqueceu-se das escolas de samba. Elogiou o lambadão cuiabano, mas deve achar que Catira, Cururu, Moda de Viola são nomes de peixes exóticos. Desvaneceu-se pelo hip hop da periferia de São Paulo, mas não deu conta do Jongo, do Caipira, do Samba Paulista, da escola de samba fundada e dirigida por negros no periférico bairro da Vila Matilde. Do Rio Grande do Sul, elogiou a tchê music, mas excluiu a Chula, a Trova, a festa dos CTGs.

Por que será que Hermano Viana desprezou os gêneros-expressão da cultura popular nacional e se deslumbrou com esses estilos? Por que desprezou o luxo pelo lixo da periferia? Por que será que ele desprezou os mesmos gêneros musicais e as mesmas manifestações culturais que as multinacionais do disco e da produção artística e a mídia também desprezam?

O antropólogo reconhece que a “origem mais remota” desses estilos que monopolizaram sua atenção “é a jovem-guarda dos anos 60, rock básico e escandalosamente ingênuo, tocado com uma guitarra ‘chacumdum’, um baixo e bateria”. Ora, a jovem-guarda foi a primeira tentativa da multinacionais do disco de impor ao Brasil uma estética externa, pasteurizada e domada. E o que sobrou da jovem-guarda, com exceção de Roberto Carlos, que sobrevive graças ao talento pessoal e à audiência da Globo? Apesar disso, foi nas derivações/imitações dessa coisa artificial, nas derivações/imitações do estilo nascido nas prisões e guetos norte-americanos, o rap, e na estética do tráfico, o pornô-funk, que Hermano Viana se deteve.

A razão de tal seleção é, exatamente, o oposto do que simula combater no panegírio: que a periferia se comporte como periferia, se perpetue como periferia, que o povo tenha o “direito” à ilusão da inclusão social pela imitação dos estereótipos, das banalidades exportadas pela metrópole. E, é claro, o faça nos limites do gueto, sem ver além das estreitas fronteiras da alienação.

É que os gêneros musicais nascidos no povo e na cultura nacional foram capazes de tomar o centro, tiveram a capacidade de se transformar no símbolo da cultura nacional, em sinônimo de cultura nacional. Foi sua força que obrigou as gravadoras multinacionais a trabalhar com eles, a difundi-los para poder afirmar-se economicamente (depois que monopolizaram o mercado nacional começaram com a jovem-guarda e não pararam de tentar impor estilos importados padronizados).

Já esses outros estilos, por mais jovens que atraiam, por mais barulho que façam, por mais histriônicos que se apresentem, não ameaçam o cartel. São imitações dos estilos que o cartel impõe. E as imitações não só não ameaçam como legitimam a prática dos monopólios. Aliás, imitadores sempre houve. Os mais velhos lembram-se dos grupos que, não sabendo inglês, mas querendo parecer enturmados, apresentavam-se com play-back e faziam mímica para simular que cantavam rock. Eram quase todos de periferia.

“Assistimos também ao nascimento de indústrias de entretenimento popular... sem mais depender de grandes gravadoras e grandes mídias para construir sua rede de difusão nacional”, elogia o antropólogo, saudando o que chama de “novos modelos de negócios”.

Basta ver com olhos menos alienados quais são os “novos modelos de negócios” que Hermano Viana canta: É a velha e primitiva exploração, com a substituição de compositores e intérpretes de verdade por um lumpesinato sôfrego pelo sucesso, sem qualquer preocupação que não seja virar celebridade, seja do que for e a que preço for, e uma produção medíocre incapaz de sobreviver a uma temporada, em que a cada novidade é maior o apelo ao exibicionismo e em que os “artistas” são descartados e trocados, pelos donos do negócio, numa velocidade alucinante. Muito raramente, um entre milhares consegue libertar-se dessa condição marginal e vira bandido de verdade, como foi o caso do Belo, ou passa a gozar de patrocínio e certa proteção como músico a serviço de uma organização criminosa, como é o caso dos mestres de cerimônia do PCC, os santistas Renatinho e Alemão.

No tecnobrega paraense, como ele também conta, os autores não ganham direitos autorais, as bandas precisam da divulgação nas rádios, nas aparelhagens e no camelô para fazerem sucesso e serem contratadas para shows. “Por isso seus grandes sucessos são metamídia: as músicas elogiam DJs, programas de rádio e de TV, aparelhagens, fã-clubes de aparelhagens”... Mas os empresários dos shows, os donos dos bailes, os donos das aparelhagens, os donos das rádios, os programadores, todos ganham dinheiro. Só os artistas é que se sujeitam a trabalhar de graça até que se realize o raro sonho de conseguir um contrato para um show com cachê.

Em Fortaleza, é famoso Manoel Gurgel, dono de bandas. Ele é o dono do nome da banda, dos instrumentos, exige que as músicas sejam registradas em seu nome, recolhe os direitos autorais como se autor fosse e já montou até um dezena de bandas Mastruz com Leite para vender o mesmo “artista” para shows diferentes, em que o público de cada espetáculo acha que está vendo a única Mastruz com Leite, e em que os músicos vão sendo trocados, sem que a banda mude de nome, conforme suas conveniências financeiras.

Ou o caso do DJ Marlboro, principal produtor do funk carioca, e com quem Hermano Viana teve instrutivas conversas: Quem não fizer contrato com a editora musical de Marlboro, a Afegan - dando-lhe a propriedade de 25% da música -, não toca na rádio. E quem não tocar na rádio não é contratado para tocar nos bailes funk, cuja produção é monopolizada por ele. Ou ainda o caso do João da Condil, que, de dono de rede de lojas de discos, virou produtor e dono de rádios e só produz e toca quem editar as músicas em seu nome, dando-lhe sociedade na arrecadação dos direitos autorais.

Mas, afinal, para que serve, a quem serve a louvação de deste mangue? A resposta está na recente decisão da Unesco em defesa da diversidade cultural e do clamor crescente contra o jabá!

Em outubro passado, a Unesco aprovou a Convenção Mundial em Defesa da Diversidade Cultural – convenção que o Brasil ainda não ratificou. Essa convenção define que a defesa da diversidade cultural é a defesa das culturas nacionais contra a padronização dos monopólios e a democratização dos instrumentos de difusão e distribuição. Já o ministro Gilberto Gil tem estimulado e patrocinado a “diversidade” de passeatas gays e a pulverização de “campinhos de várzea da cultura”, como definiu o coordenador de políticas digitais do Minc, Cláudio Prado. Tem defendido, estimulado e patrocinado a criação de guetos onde o povo se “satisfaça” e crie a ilusão que o ministério é o campeão da defesa da diversidade cultural.

Sobre a defesa da cultura nacional e a democratização dos instrumentos de difusão e distribuição da cultura, cuja primeira e fundamental medida é o combate ao jabá, Gilberto Gil acha que “é muito complexo”.

No fim, o que Hermano Viana faz é formular uma teoria canhestra, preconceituosa e reacionária - mas bem revestida por um palavrório sedutor - para dar tinturas de coisa moderna e avançada à política de Gilberto Gil de adequar-se aos interesses dos monopólios internacionais. À Globo, no caso, essa política cai como uma luva. Ela tem a pretensão de ser a provedora de conteúdo nacional. Esse programinha serve-lhe para fingir que está divulgando a cultura nacional. (JOÃO MOREIRÃO – 31/05/2006)