sábado, 30 de janeiro de 2010

“Estado do Haiti tem condições de comandar sua reconstrução”

Declaração dos 13 países reunidos exige respeito à soberania do país, assim como à ação da ONU. EUA fica isolado por tentar aproveitar tremor para dominar o país. Hillary diz que capacidade do governo deve ser “considerada”










“O Estado haitiano trabalha em condições precárias, mas está capacitado para cumprir com a liderança que a população espera dele”, afirmou o primeiro-ministro do Haiti, Jean Max Bellerive na conferência que reuniu ministros de diversos países em Montreal no dia 25. Além do primeiro-ministro haitiano, e da ONU participaram do encontro ministros de 13 países (Argentina, Brasil, Canada, Chile, Costa Rica, França, México, Peru, Estados Unidos, Uruguai, Japão, Espanha, e República Dominicana).

Bellerive destacou que o apoio de outros países é bem-vindo e que “estamos conscientes de que a responsabilidade pelo nosso futuro recai sobre as mãos do governo e do povo haitiano”, afirmou Bellerive. “Foi criada uma confusão porque o governo haitiano não tem mais nossos prédios à disposição. Mas apesar disso, estamos atuando”.

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, apoiou seu colega do Haiti: “Não estamos aqui para substituir as autoridades legítimas”.

A indignação internacional e dentro dos EUA, onde já houve manifestações em 24 cidades contra a invasão do Haiti com 20 mil soldados quando os haitianos precisam de médicos, enfermeiras e bombeiros, levou a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, a encenar uma desajeitada de composição com o clima reinante em Montreal. “Temos que considerar a capacidade do governo do Haiti de unificar os esforços internacionais”.

A declaração final destacou o reconhecimento do governo do Haiti. Foi marcado um novo encontro em Nova Iorque em março para definir um programa de arrecadações e distribuição dos recursos sob orientação do governo haitiano.

A Aliança Bolivariana para as Américas (Alba), da qual participam países da América Latina e Central aprovou um plano de assistência ao Haiti, e comprometeram-se a entregar US$ 100 milhões O presidente da Venezuela anunciou o perdão da dívida do Haiti pela compra de combustível venezuelano. “O Haiti não tem dívida com a Venezuela; a Venezuela tem uma dívida histórica com essa nação, com esse povo”, disse Chávez.

O primeiro-ministro Jean Max agradeceu à comunidade internacional pela ajuda e fez especial menção a Cuba, Venezuela e República Dominicana, os quais “imediatamente chegaram para ajudar a nossa população afetada”.

Na entrevista concedida à dirigente da organização Democracy Now!, Amy Goodman, o jornalista Kim Ives que editor de Haiti Liberté, repudiou o envio de tropas ao invés de ajuda e lembrou o passado de intervenção dos EUA no país. Para ele, o melhor seria trazer de volta o presidente derrubado por um golpe promovido com apoio norte-americano, Jean Bertrand Aris-tide, em 2004 (este foi precedido de outro que também o derrubara em 1991, também com apoio dos EUA). Sua vinda “criaria um contra-terremoto de esperança e orgulho popular”, diz Kim Ives.

O jornalista ressalta que “impuseram políticas econômicas após expulsarem Aristide, que havia manifestado uma orientação nacionalista para construir a auto-suficiência do Haiti. Os EUA não aceitavam, queriam que se privatizassem as nove estatais [entre elas a indústria de cimento e as telecomunicações].

Kim Ives ressalta que após a revolução de escravos que levou o Hatiti à independência, passaram-se 60 anos e só com Abraham Lincoln o governo haitiano foi reconhecido, depois da Guerra Civil nos EUA. Mas “em 1915, os marines invadiram o país e se apoderaram do banco central e do governo. Ocuparam o país até 1934; depois instalaram a Guarda do Haiti, que funcionou como um braço dos marines para proteger os interesses dos EUA no país. A intervenção conduziu à ditadura de François Duvalier (Papa Doc) que, quando morreu (em 1971), delegou seu título de presidente vitalício a seu filho, Jean-Claude Duvalier (Baby Doc)”.

“A segurança é um pretexto”, destaca Ives, “vemos em todas as partes do Haiti que a população se organiza em comitês populares para limpar, tirar os cadáveres dos escombros, construir acampamentos de refugiados, estabelecer segurança para esse acampamentos”. Quanto ao socorro às vítimas e o início da reconstrução “são coisas que o povo haitiano pode fazer por si e está fazendo para si mesmo”.

Publicado no Jornal Hora do Povo

Nenhum comentário: