terça-feira, 19 de janeiro de 2010

A propósito de vazamentos políticos


Emerson Pires Leal*

No finalzinho de 2009 o JPMorgan Chase – um dos principais bancos norte-americanos – deu um aviso „aos navegantes‟: “nosso candidato no Brasil é José Serra”. Disse mais: „Dilma Rousseff é uma candidata muito competitiva; [o problema é que] ela poderia elevar o grau de intervenção do Estado no setor privado (então, não serve para ‘nós’)‟. O PSDB – bem o sabemos – é o principal partido que representa os interesses das grandes corporações multinacionais no Brasil. Por outro lado, o Estado, na concepção das elites dominantes, deve servir apenas para atender aos interesses dessas elites. Neste sentido, os lucros devem ser privatizados e os prejuízos, como sempre, socializados. Foi assim, por exemplo, na crise de 2008 que fez tremer as bases da economia das grandes potências com reflexos nas do resto do mundo. O Estado – isto é, o povo – teve de investir bilhões para salvar bancos e outras grandes corporações.
Para eles, chegou a hora de jogar fora o bagaço da laranja (tradução: é preciso eleger Serra ou qualquer outro candidato das elites dominantes. O resto, é resto).
Em resumo: as peças do xadrez das eleições de 2010 já estão em movimento há algum tempo – como não poderia deixar de ser. Agora mesmo estamos assistindo a mais um movimento no tabuleiro relacionado com o decreto que o presidente Lula assinou criando a Comissão Nacional da Verdade, prevista no 3º Plano Nacional de Direitos Humanos. A idéia é resgatar um direito fundamental que o ex-ministro Nilmário Miranda definiu com muita precisão.
“Na democracia – disse ele –, o poder militar tem de se submeter ao poder civil. O direito à informação e aos corpos dos desaparecidos políticos é universal e não poderá ser exercido sem desagradar a parte dos militares que participou da repressão”. Só que os militares não pensam assim. O episódio da criação da Comissão para apurar crimes e violações dos direitos humanos no período entre 64 e 85 está sendo utilizado pela oposição para tentar debilitar o governo federal e, por tabela, a candidata Dilma Rousseff.
Em síntese, o conluio entre a mídia e representantes das Forças Armadas que ocorreu após Lula ter decidido avançar no projeto que discute a hipótese da abertura de arquivos da ditadura, residiu no seguinte: a Folha de S. Paulo publicou as conclusões de um relatório técnico da Força Aérea Brasileira (FAB) revelando para o público a preferência da „caserna‟ pelo avião sueco Gripen. O vazamento desta informação teve o objetivo de deixar o presidente Lula numa saia justa.
A esperança, é que o pequeno recuo que o Presidente teve de assumir na elaboração do decreto que criou aquela Comissão não venha a significar um prejuízo muito grande quando o projeto for discutido no Congresso Nacional. Para isso, é preciso que a sociedade se mobilize para dar respaldo às bancadas do Congresso sintonizadas com os interesses do nosso povo.

*Emerson Leal – Doutor em Física Atômica e
Molecular e vice-prefeito de S. Carlos
e-mail: emersonpleal@gmail.com

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