segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Noam Chomsky e a democracia dos EUA

Por Emerson Pires Leal*

“Capitalismo Gangster”, de Michael Woodywiss, e “O que o Tio Sam realmente quer”, de Noam Chomsky, são dois livros que permitem entender como funcionam algumas engrenagens do capitalismo nesta sua etapa de barbárie; isto é, na fase imperialista dos grandes monopólios transnacionais que atuam implacavelmente, no mundo todo, sugando a riqueza dos povos.
Esses livros são sustentados por rigorosas provas documentais. Arthur Naiman e Sandy Niemann proclamam, ao apresentar o livro de Chomsky: “Num mundo mais sensato, seus incansáveis esforços para promover a justiça já lhe teriam dado direito ao Prêmio Nobel da Paz, mas o Comitê [Nobel] continua atribuindo-o a pessoas como Henry Kissinger”, um dos estrategistas da Guerra do Vietnã que ceifou a vida de mais de dois milhões de vietnamitas e de 60 mil jovens norte-americanos.
A Editora da UnB publicou ainda, de Chomsky, os seguintes livros: “Segredos, mentiras e democracia” e “A minoria próspera e a multidão inquieta” em que aprofunda seu diagnóstico do
capitalismo norte-americano. Lendo-os, entende-se por que Chomsky é boicotado pela mídia dos
EUA que sequer publica as réplicas ou comentários desse autor sobre questões geopolíticas.
Amplos setores da opinião pública mal o conhecem em seu próprio país, vítima que é da censura.
Pois é, Chomsky analisa o significado „doutrinário‟ de democracia – utilizado pelos ideólogos e pela mídia “para servir ao poder”. Uma sociedade verdadeiramente democrática seria aquela em que o povo participaria, “de modo significativo, da direção de seus interesses”. Nas democracias ocidentais (EUA, por ex.) vigora uma democracia em seu sentido „doutrinário‟, segundo Chomsky, em que “as decisões são tomadas pelos setores da comunidade empresarial e a elite a ela relacionada”, ou seja, pela elite dominante.
Como potência hegemônica, os EUA exportam para o mundo este conceito de democracia.
“Se segmentos do povo – em um país qualquer – saírem de sua apatia e começarem a se organizar e a entrar na arena pública, isso não será democracia. Será antes uma crise na democracia no exato uso técnico do termo, será uma ameaça que terá de ser superada de uma ou de outra maneira: em El Salvador, pelos esquadrões da morte, aqui, nos EUA, por meios mais sutis e indiretos”, diz Chomsky.
Em El Salvador um grande número de associações camponesas foi formado, com a colaboração da igreja, na tentativa de organizar a população pobre. Essas organizações populares começaram a incomodar o poder, com suas justas reivindicações. Assim, a CIA tratou de organizar e treinar os esquadrões da morte salvadorenhos. Diz Chomsky: “As organizações populares foram dizimadas, como havia previsto o arcebispo Romero. Dezenas de milhares de pessoas foram trucidadas e mais de um milhão de salvadorenhos tornaram-se refugiados. Este foi um dos episódios mais sórdidos da história americana – e tem havido muita concorrência”.
O impressionante é que nossa mídia tupiniquim, subalterna que é aos interesses norteamericanos, escondeu também dos brasileiros esses fatos históricos.

*Emerson Leal – Doutor em Física Atômica e
Molecular e vice-prefeito de S. Carlos
e-mail: emersonpleal@gmail.com
JAN/2010

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