segunda-feira, 26 de abril de 2010

UMESA reúne diretoria neste dia 28 de Abril.

Discutir os rumos da entidade nos meses de Abril e Maio é tema da reunião de diretoria que ocorre neste dia 28 de Abril às 13h na Sede da entidade - Rua Carlos Gomes, 1299 - Centro. A reunião é aberta e a diretoria é convocada a participar, devendo a mesma justificar possíveis ausências.

Tiradentes e a atualidade da Questão Nacional

ALDO REBELO*


A atualidade de Joaquim José da Silva Xavier deve ser celebrada no 218º aniversário de sua imolação como símbolo de um movimento de autonomia nacional que ainda hoje está por se completar na formação social brasileira. A Conjuração Mineira foi um daqueles sonhos a que os homens se entregam por intuírem o caminho da História antes de a História lhes oferecer as condições determinantes para a materialização do sonho. Assim ocorreu com a Comuna de Paris, em 1871, definida por Karl Marx como uma tentativa de tomar o céu de assalto. Como já tive oportunidade de observar, também aos revolucionários de Vila Rica a História não recusou a razão, mas lhes negou a oportunidade. O projeto político de conquistar a Independência e proclamar a República do Brasil foi muito além da troça que certos centros de pensamento querem lhe atribuir, apontando os conjurados como mais interessados em não pagar impostos à Coroa portuguesa do que em fundar uma nação. Joaquim José da Silva Xavier foi líder visionário, não um fantoche manipulado pela elite de Vila Rica, que, afinal, se era elite interessada na Independência do Brasil, constituía o povo da época. Como na memorável luta contra os holandeses no Nordeste, no século anterior, em Minas também se reuniam pela causa nacional os reinóis, os mazombos, os mestiços. Todos foram punidos, uns com a morte na cadeia, outros com o degredo e Tiradentes com a forca. Os banidos para a África e que lá morreram só voltariam à pátria por ordem do presidente Getúlio Vargas, que em 1942 mandou buscar um a um os heróis falecidos no desterro.Inspirados por versos de Virgílio [Libertas quae sera tamen], reivindicavam liberdade ainda que tarde, e tinham como fonte os filósofos do Século das Luzes que refletiam a crise do Absolutismo e do Colonialismo no século XVIII e forjavam novas idéias e poliam os homens que iriam lutar e morrer por elas. Os conjurados de Minas Gerais miravam as nuvens que a Ilustração espalhara no céu da democracia, do que foram exemplos mais eloqüentes a Independência dos Estados Unidos da América, que nasciam como república, e a gloriosa Revolução Francesa. Nações em formação no Novo Mundo, como a americana e a brasileira, e as Colômbias de Simon Bolívar, já eram grandes demais para caber no apertado gibão da Europa feudal em transição para o capitalismo.O sonho dos conjurados era implantar fábricas de tecidos e siderurgias na colônia que queriam tornar país. Tiradentes desenvolveu sua consciência política patrulhando o Caminho Novo, que ligava Minas ao Rio, por onde via passar as riquezas das jazidas auríferas do Brasil desviadas para Portugal, na quota de 100 arrobas de ouro por ano, aumentada em 1762 para oito mil quilos a título de dívida fiscal atrasada. O esbulho levava o nome de derrama.Preterido nas promoções da Cavalaria, nunca tendo passado do posto de alferes, estabeleceu-se no Rio, levando a vida como qualquer do povo, trabalhando de mascate, tropeiro, boticário e dentista. Não era um homem sem luzes: órfão, sem nunca ter feito estudos regulares, projetou a canalização dos rios Andaraí e Maracanã para melhorar o abastecimento de água da sede do vice-reino. Há notícias de que admirava o progresso industrial da Inglaterra, guardava um exemplar da Constituição dos Estados Unidos e citava a figura do presidente da República em oposição a um rei distante.Depois de enforcado, em 21 de abril de 1792, no Largo de Lampadosa, atual Praça de Tiradentes, no Rio de Janeiro, teve os restos mortais espalhados na estrada que patrulhara e onde tecera seu sonho de Independência política, econômica e cultural do Brasil. Seus algozes o queriam maldito e esquecido, mas cada parte de seu corpo esquartejado parece ter servido de semente para a árvore da liberdade que germinou no Brasil e ornamentou os versos de Cecília Meireles. O povo do Rio de Janeiro logo mandou celebrar missas na intenção da alma do herói, e, pelo repúdio público, fez com que o traidor Joaquim Silvério dos Reis mudasse o nome para Montenegro e o domicílio para o Maranhão.A atualidade de Tiradentes é a mesma da Questão Nacional que ele antecipou antes da expressão. Seu vulto histórico nos repõe a importância e urgência de um projeto de autonomia nacional com vistas à consolidação de um País forte, soberano, próspero, que produza e distribua riquezas suficientes para assegurar o bem-estar material e espiritual desta civilização única que erguemos nos tópicos.Desde a infância da Nação esta tem sido uma empreitada difícil. A mesma rainha louca Maria I que mandou esquartejar Tiradentes, promulgou um alvará proibindo fábricas no Brasil e mandou destruir até os teares em que as mulheres fiavam a roupa dos filhos. Quase um século depois, os próceres da República, empenhados em industrializar o Brasil, eram dissuadidos pela casa bancária inglesa dos Rotschild, que nos recomendava exportar café e deles comprar linha, agulhas e botões. Foi na construção da identidade nacional que a República resgatou o heroísmo de Tiradentes.As lutas do passado continuam, por outros meios e caminhos, no presente. Os embates que o Brasil trava contra o protecionismo das grandes potências, as pressões para a liberalização comercial que nos engoliria como país produtor de riquezas, e tantas outras ofensivas, fortalecem a convicção de que a Questão Nacional está viva, e aponta para a necessidade de mantermos a soberania nacional como atributo essencial do Estado.Nos dias de hoje, sofremos um tipo novo de intervenção que nos limita a autonomia de dispormos de nosso território e recursos naturais em benefício do desenvolvimento e do bem-estar do povo. A abertura de estradas, construção de hidrelétricas, vivificação das zonas de fronteira, modernização de leis para ampliação da agricultura e democratização da propriedade da terra são boicotadas por governos estrangeiros e suas cabeças de ponte chamadas ONGs do meio ambiente. O exemplo histórico de Tiradentes é um alento para continuarmos a luta pela autonomia de um projeto nacional e soberania do Brasil.


*Jornalista, escritor e deputado federal (PCdoB-SP). Recebeu em 10 de novembro de 2003 a Medalha Tiradentes, da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.

A estratégia dos EUA nas questões da tecnologia nuclear


O Prof. Sérgio Rezende, físico e pesquisador brasileiro, é o ministro da Ciência e Tecnologia (MCT) do governo Lula. Sua entrevista à CartaCapital nº 589 permite um bom entendimento da
questão relacionada com o acordo de cooperação entre Brasil e Irã. O ministro Rezende esteve, no início do mês de março, no país de Ahmadinejad e disse ter se impressionado com o que viu.
Todos sabemos como o Irã é demonizado pelo Ocidente e, por consequência, pela mídia brasileira. Qual a raiz do problema? Por que o presidente Obama comete o desplante de caracterizar o Irã (e a Coreia do Norte também) como “país agressor”? Agressor? Alguém poderia me dizer a quem o Irã (ou a Coreia do Norte) invadiu ou agrediu? Mas, não são os EUA que invadem, agridem e usurpam riquezas de outras nações?
O Prof. Rezende resgata um fato histórico interessante. Até 1979 os EUA apoiavam de corpo e alma a ditadura do Xá Reza Pahlevi, “que não tinha nenhum compromisso com os direitos humanos”.
O Xá foi derrubado pela Revolução Islâmica, que nacionalizou empresas do setor de petróleo – foi o suficiente para o Irã cair em desgraça.
O bloqueio internacional que os norte-americanos impuseram ao Irã, via ONU, obrigou que o país fizesse investimentos pesados em tecnologia, não só nuclear, “mas em muitas outras também”.
Hoje a terra dos aiatolás é dos países do mundo “que mais tiveram aumento de publicações científicas em todas as áreas”.
A Índia, o Paquistão e Israel produziram a bomba nuclear e são países “que têm problemas com os direitos humanos, e ninguém reclama”, diz o ministro Sérgio Rezende. Por que eles puderam desenvolver tecnologia nuclear e o Irã não pode? Israel, por exemplo, tem cerca de 200 ogivas nucleares e os EUA nunca se preocuparam com isto. Pelo contrário, ajudaram!
Diz o ministro sobre o Irã: “Vi medicamentos que eles desenvolveram sinteticamente, que nós não temos. Para o combate à Aids, por exemplo. Aqui [no Brasil], as empresas nacionais de fármacos foram sendo vendidas [no governo FHC quando Serra era o ministro da Saúde] para multinacionais e ficamos para trás”!
Desenvolver tecnologia nuclear é importante não só para a geração de energia, mas também para a produção de radiofármacos usados no tratamento de câncer. “O Brasil não possui um reator para a produção de radiofármacos. Temos de importar do Canadá” ou até mesmo da Argentina.
“O Brasil é um grande importador de matéria-prima para medicamentos e de componentes para eletrônica. Se não tivéssemos abandonado [por imposição do governo FHC] a microeletrônica na década de 90, não seria assim”. Dominar a tecnologia e criar condições para que ela chegue às linhas de produção demora vários anos. Felizmente o Brasil de Lula já começou a resgatar este projeto.
Em síntese, fica claro por que os EUA pressionam países como o Irã, Coreia do Norte e o Brasil para não desenvolverem tecnologia nuclear. Eles querem a eterna dependência dos mesmos da tecnologia do Primeiro Mundo. Demonizar os países que procuram desenvolvê-la é uma estratégia de dominação que países soberanos não devem aceitar jamais.

Emerson Leal – Doutor em Física Atômica e
Molecular e vice-prefeito de São Carlos.
E-mail: emersonpleal@gmail.com

quarta-feira, 14 de abril de 2010

“O tempo dos exterminadores do futuro já passou”, diz Dilma

“Democrata que se preza não trata grevistas como caso de polícia, nem bate em manifestantes que lutam pacificamente”, afirmou a pré-candidata, em encontro com as Centrais Sindicais, no ABC.

Durante a reunião das centrais e o presidente Lula no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, realizada no sábado (10), a pré-candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, fez um balanço da atuação do governo Lula na geração de emprego e na recuperação do poder de compra do salário mínimo. “A verdade é uma só. O governo mudou a face do mundo do trabalho em nosso país. Fez um acordo de valorização do salário mínimo. Não foi contra as centrais, foi em parceria com elas. Por isso a gente pode dizer que o presidente Lula é o presidente do emprego”, disse. A ex-ministra da Casa Civil lembrou o desemprego que campeou no país durante a gestão tucana. “Aquele país triste, da estagnação e do desemprego, ficou pra trás. O povo brasileiro não quer esse passado de volta. Acabou o tempo dos exterminadores de emprego, dos exterminadores de futuro. O tempo agora é dos criadores de emprego, dos criadores de futuro”. Para Dilma, o governo Lula acabou com a história de que não se pode aumentar o salário mínimo porque isso gera inflação ou quebra o Estado. “Isso é uma grande e solene mentira”, sublinhou. O presidente Lula destacou que o “Brasil pode mais nas palavras dos nossos adversários, mas nós dizemos que fazemos mais” (ver matéria ao lado).Artur Henrique, Paulo Pereira da Silva (Paulinho), Antonio Neto, Wagner Gomes e Calixto Ramos - presidentes da CUT, Força Sindical, CGTB, CTB e NCST, respectivamente - resgataram as conquistas obtidas pelos trabalhadores durante o governo Lula, como a valorização do salário mínimo, o reconhecimento das centrais, a derrota da Emenda 3 (que acabava com direitos trabalhistas), a aprovação da Convenção 151 da OIT, à espera de sanção presidencial. Como subsídio para o debate, o diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Clemente Lúcio Ganz, apresentou o estudo “Mercado de Trabalho Brasileiro - evolução recente e desafios”.“Vamos eleger a primeira presidente do Brasil, para evitar o retrocesso”, conclamou Artur. Paulinho, por sua vez, disse que conhecia bem o candidato Serra: “ele nunca gostou de trabalhador”. Para Neto, “não há tarefa mais importante para a classe trabalhadora em 2010 que eleger Dilma”. Wagner sublinhou que “os trabalhadores estão empenhados na continuidade da política de desenvolvimento, junto com a ministra Dilma”.O evento contou com mais de 700 dirigentes sindicais e diversas autoridades, como o ministro do Trabalho, Carlos Lupi; o senador Aloizio Mercadante (PT); a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy; o presidente do PT-SP, Edinho Silva; o presidente do PPL-SP, Miguel Manso; o representante do PCdoB, Onofre Gonçalves; Denise Cabral, representando o PDT-SP, diversos deputados federais, estaduais e prefeitos.Dilma Rousseff afirmou que iria aproveitar a ocasião para se identificar com maior clareza, dizer o que fez e, “coisa muito importante”, o que não faz de maneira nenhuma. “Eu não fujo quando a situação fica difícil. Eu não tenho medo da luta. Posso apanhar, sofrer, ser maltratada, mas estou sempre firme com minhas convicções. Em cada época da minha vida, fiz o que fiz por acreditar no que fazia. Fiz com o coração, com minha alma e minha paixão. Eu só mudei quando o Brasil mudou, mas eu nunca fugi da luta ou me submeti. E sobretudo, nunca abandonei o barco”, disse Dilma. “Vocês não me verão entregando os pontos, desistindo, jogando a toalha. Vou lutar até o fim por aquilo em que acredito”, acrescentou.Alguns tucanos e seus aliados - abanados por certa mídia - tentaram atribuir a esta fala de Dilma críticas aos que foram exilados durante a ditadura. Mas a ex-ministra rebateu a intriga. “De onde tiraram que fugir da luta é se exilar? O exílio significou a diferença entre a vida e a morte para os exilados brasileiros. Grandes amigos meus, corajosos e valorosos, só tiveram uma saída na ditadura, se exilar. Querer dizer que eu os critiquei só pode ser má fé”, afirmou Dilma em seu twitter (@dilmabr) na segunda-feira (12).Em seu discurso, Dilma buscou diferenciar as políticas da gestão tucana e as do governo Lula, de suas posições e as do candidato tucano. Ela defendeu a atuação do Estado e o diálogo com os movimentos sociais. “Eu nunca traí os interesses e os direitos do povo. E nunca trairei. Vocês não me verão por aí pedindo que esqueçam o que afirmei ou escrevi”.Contra a política do “estado mínimo”, das privatizações, frisou que não tomará decisões que signifiquem a entrega das riquezas nacionais. “Não vou destruir o Estado, diminuindo seu papel a ponto de tornar-se omisso e inexistente”. Ela argumentou sobre a necessidade do respeito aos movimentos sociais e ao movimento sindical, a base de uma sociedade democrática. “A democracia que desrespeita os movimentos sociais fica comprometida e precisa mudar para não definhar. O que estamos fazendo no governo Lula e continuaremos fazendo é garantir que todos sejam ouvidos. Democrata que se preza não agride os movimentos sociais. Não trata grevistas como caso de polícia. Não bate em manifestantes que estejam lutando pacificamente pelos seus interesses legítimos”, destacou.Na análise do diretor técnico do Dieese, “os resultados observados revelam uma melhoria nos principais indicadores do mercado de trabalho: crescimento da ocupação, queda do desemprego, aumento da formalização e redução da informalidade, acompanhados por significativo aumento da massa salarial e discreta recuperação do salário médio, crescimento do valor real do salário mínimo, e resultados mais positivos nas negociações salariais”.Segundo Dieese, entre 2003 e 2009, foram criados mais de 12 milhões de empregos formais e o salário mínimo teve aumento real de 53,67%. “A necessidade de sustentar o desenvolvimento com elevação dos salários, do emprego e da produtividade impõe urgente expansão do investimento na qualidade da educação básica e na ampliação da oferta da educação profissional”, diz o estudo.

Publicado na Hora do Povo, edição 2.854

'Serra me pediu para conversar com professores, mas não foi', diz Lula

"Qual não foi a minha surpresa quando no dia seguinte ele viajou, não conversou e mandou o seu secretário reunir com os professores, secretário que não os atendia”, afirmou o presidente.

O ex-governador de São Paulo, Josá Serra, disse em seu discurso durante o ato de lançamento da sua candidatura no sábado, no Centro de Convenções em Brasília, que “o governo deve ouvir a voz dos trabalhadores, dos servidores públicos e dos profissionais de todas as áreas”. Exatamente o contrário do que fez recentemente, às vésperas de sair do governo paulista, quando se recusou a negociar com as lideranças do professorado paulista, que teve que ir à greve por reajuste salarial. Serra saiu do governo sem conversar com eles e jogou a tropa de choque contra os professores, numa das manifestações, levando vários deles para o hospital com ferimentos graves. Outros foram presos.O presidente Lula no ato em São Bernardo, no sábado, relatou, inclusive, que, quando esteve em Tatuí (SP) dias atrás, o então governador José Serra lhe solicitou que intercedesse junto aos professores paulistas que se encontravam em greve. Serra se comprometeu a conversar pessoalmente com os professores, mas depois descumpriu a promessa e colocou o secretário de Educação, Paulo Renato Souza, para receber os docentes. “Eu vim para cá e o nosso querido companheiro Edinho [Silva, presidente do PT-SP] ligou para o governador Serra. Eu assumi o compromisso de conversar com a Apeoesp [sindicato dos professores]”, disse Lula.“Eu tinha dito para o Serra: conversa você diretamente com o Sindicato, não deixa o teu secretário de educação conversar. Eles não querem muito, eles querem fazer um acordo. O Edinho ligou para o Serra e me informou que este iria conversar com os professores. Conversamos com a Bel [Maria Izabel Azevedo Noronha (Bebel), presidente da Apeoesp] e fui embora tranqüilo de que o governador iria chamar os professores para conversar. Qual não foi a minha surpresa quando no dia seguinte ele viajou, não conversou e mandou o seu secretário reunir com os professores, secretário que não os atendia”.Com outras categorias que lutam por reajuste nos seus salários arrochados aconteceu o mesmo, como os policiais civis. Em greve por melhores salários, entre setembro e outubro de 2008, a tropa de choque foi acionada contra uma manifestação dos policiais civis deixando um saldo de 25 feridos. Serra se negou a negociar com a categoria sob a já vulgar alegação de que o movimento era “político”.No entanto, Serra escondeu tudo isso, como se ninguém se lembrasse desses tristes episódios, e pintou um quadro azul do seu modo gentil e fraterno de governar se dizendo “homem do diálogo” e vítima das “falanges do ódio”. Não dialoga e não dialogou com ninguém, nem com seus próprios aliados. Aécio Neves que o diga.Prosseguindo, Serra disse que “quem governa deve acreditar no planejamento de suas ações”. O desabamento de duas vigas gigantes de um viaduto do rodoanel, que destruiu automóveis e caminhões, ferindo três pessoas, o planejamento do próprio rodoanel - que depois de tantos anos de planejamento tucano só teve dois quartos de seu traçado inaugurado - o atraso na expansão do Metrô e outros são as provas do seu magnífico “planejamento”. Ou será que como exemplo de planejamento ele está se referindo às inúmeras praças de pedágios que proliferaram no seu governo nas estradas de São Paulo e que revoltam os paulistas com suas tarifas altíssimas?Na platéia do ato, uma pessoa se destacava pela empolgação com o discurso do tucano. Era Eliane Catanhede, representando a “Folha de S. Paulo”. Ela quase entrou em êxtase com a fala de Serra. Disse que o PSDB agora estava parecendo “um partido de massas”. Mas fez questão de lembrar que um tucano a corrigiu: “massas sim, mas massas cheirosas”.Na plateia do evento estava presente o deputado cassado e réu confesso por roubo de dinheiro dos Correios, Roberto Jefferson, que declarou seu apoio a Serra. A baixa foi do ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (ex-Dem), que antes do escândalo da propina era supercotado para ocupar a vice na chapa de José Serra. Arruda só conseguiu sair da prisão na segunda-feira (12) por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ).Por fim, Serra fechou com chave de ouro o evento: saiu do edifício do centro de convenções pela garagem, deixando seus correligionários decepcionados, enquanto Aécio monopolizava os holofotes no recinto.

Publicado na Hora do Povo, edição 2.854

Coutinho propõe monopólio privado da Oi sobre o PNBL

Após meses de extensas discussões sobre o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), na reunião de quinta-feira passada, com o presidente Lula, ministros, demais responsáveis pelo plano e outros membros do governo, o sr. Luciano Coutinho, presidente do BNDES, defendeu que a Oi seja a sua gestora. Segundo participantes da reunião, Coutinho disse que “é mais fácil” a Oi administrar o PNBL, e os 31 mil km de fibras óticas do Estado, do que a Telebrás, elogiando o “plano de expansão” da empresa e ressaltando que o BNDES e os fundos de pensão têm “49% das ações”. É algo constrangedor ver o sr. Coutinho lançando esses 49% como se fosse uma isca para os demais membros do governo. Se a credencial da Oi para gerir o PNBL é a participação que o Estado tem nela, muito melhor é a Telebrás. Até porque o sr. Coutinho sabe que, na Oi, o BNDES e os fundos de pensão das estatais, com 49,82% das ações, estão apenas sustentando quem realmente manda na empresa: a Andrade Gutierrez e o Grupo Jereissati, ambos com apenas 19,34% das ações. Coutinho sabe disso porque esta é, exatamente, a sua política acionária - seja na Oi, seja na ex-Aracruz Celulose, seja na Eletropaulo. Mas voltemos ao PNBL. O Plano Nacional de Banda Larga é uma discussão séria. Com exceção da nova lei do petróleo para o pré-sal, não há projeto que, para o Brasil, lhe seja comparável do ponto de vista estratégico. Nele está em jogo o nosso desenvolvimento, os interesses nacionais e o futuro do país. Portanto, é uma discussão que só pode ser feita por gente séria - e o mínimo que se pode dizer da proposta de Coutinho é que não é séria. Primeiro, onde é que já se viu entregar, assim sem mais nem menos, o patrimônio público (isto é, os 16 mil km de fibras ópticas que antes estavam com a Eletronet e mais os 15 mil km das empresas elétricas e da Petrobrás) a um monopólio privado, sem guardar nem mesmo o pudor das aparências? Somente Serra, em São Paulo, fez algo semelhante – sobretudo em hospitais. Mas o sr. Coutinho é um sacerdote da estranha religião de que, através de “fusões” e do dinheiro público, devemos cevar monopólios privados no país, “multinacionais” brasileiras, “global players”, ou lá que nome tenham - sempre às custas dos cofres do BNDES, isto é, do dinheiro da população, para espoliar a própria população, e, se possível, também a população de outros países. Daí a entregar um patrimônio público a um monopólio privado sem mais rebuços, não chega a ser nem um passo inteiro. Não é que o achemos pior do que os privatizadores de Fernando Henrique: a questão é que com esse raciocínio, com tais premissas, com esse pensamento, inevitavelmente chega-se lá por algum caminho. Do ponto de vista econômico, trata-se de uma espécie de santo-daime. Falamos em religião, mas é preciso acrescentar que se trata de uma dessas para a qual a realidade é o que menos importa. Para concentrar ainda mais a renda, não existe coisa melhor do que criar monopólios privados com o carbureto do dinheiro público. Para desnacionalizar, também – o sr. Coutinho, aliás, antes do BNDES, foi o grande promotor da fusão Antárctica-Brahma, que acabou na Bélgica e hoje passeia pelos EUA. Mas o sr. Coutinho acha que a única estrada para desenvolver o país é copiar a realidade norte-americana do final do século XIX. Como o Brasil tem menos a ver com isso do que o Rockefeller tinha a ver com Delmiro Gouveia, força-se a situação com carradas de dinheiro público – dinheiro que falta exatamente onde é mais necessário ao desenvolvimento: para as empresas nacionais não-monopolistas e para as estatais. A própria Oi é um milagre dessa teologia. A Telebrás - como lembrou o secretário de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento, Rogério Santanna - tem uma provisão de R$ 200 milhões e gasta R$ 1 milhão por ano com dívidas. Mas o sr. Coutinho quer, no PNBL, a Oi, que depois da fusão com a BrT é uma empresa falida, com uma dívida de R$ 29 bilhões (dívida líquida atual: R$ 22 bilhões e 429 milhões) e um prejuízo de R$ 436 milhões em 2009, apesar de sua receita, no mesmo ano, ter sido de R$ 45 bilhões e 708 milhões (cf. “Oi - Desempenho Econômico Financeiro 2009”). A Oi sobrevive de transfusões do BNDES, empréstimos para pagar empréstimos. Mas o sr. Coutinho quer confiar à Oi a rede de fibras ópticas do governo e o Plano Nacional de Banda Larga. Certamente para enterrar mais dinheiro público nela. Ora, direis, a realidade – mero ator que cambaleia e sai de cena, diante da teoria do sr. Coutinho... O governo teve que elaborar o PNBL exatamente porque os monopólios privados a que Fernando Henrique entregou as telecomunicações no país – isto é, Telefónica, Oi e Embratel/Telmex – levaram o país a uma crise no setor, a um estrangulamento, especialmente no que se refere à banda larga, que se manifesta através de apagões intermitentes, tarifas extorsivas, concentração nas faixas de maior renda e velocidades de carroça de boi, mesmo quando o usuário paga por um avião a jato. O sr. Coutinho sabe de tudo isso – e, se não sabe, deveria saber. Também já deve ter proferido dezenas, centenas, talvez milhares de aulas, explicando aos seus alunos a elementar questão de que a lógica do monopólio é extrair o máximo de lucro com o máximo de preço, portanto, nada tem a ver com universalização, mas com concentração e exclusão social. No entanto, quer que a universalização da banda larga seja feita por um monopólio privado que em 12 anos não conseguiu universalizar nem a telefonia fixa na sua área. (C.L.)

Publicado na Hora do Povo, edição 2.854