segunda-feira, 26 de abril de 2010

A estratégia dos EUA nas questões da tecnologia nuclear


O Prof. Sérgio Rezende, físico e pesquisador brasileiro, é o ministro da Ciência e Tecnologia (MCT) do governo Lula. Sua entrevista à CartaCapital nº 589 permite um bom entendimento da
questão relacionada com o acordo de cooperação entre Brasil e Irã. O ministro Rezende esteve, no início do mês de março, no país de Ahmadinejad e disse ter se impressionado com o que viu.
Todos sabemos como o Irã é demonizado pelo Ocidente e, por consequência, pela mídia brasileira. Qual a raiz do problema? Por que o presidente Obama comete o desplante de caracterizar o Irã (e a Coreia do Norte também) como “país agressor”? Agressor? Alguém poderia me dizer a quem o Irã (ou a Coreia do Norte) invadiu ou agrediu? Mas, não são os EUA que invadem, agridem e usurpam riquezas de outras nações?
O Prof. Rezende resgata um fato histórico interessante. Até 1979 os EUA apoiavam de corpo e alma a ditadura do Xá Reza Pahlevi, “que não tinha nenhum compromisso com os direitos humanos”.
O Xá foi derrubado pela Revolução Islâmica, que nacionalizou empresas do setor de petróleo – foi o suficiente para o Irã cair em desgraça.
O bloqueio internacional que os norte-americanos impuseram ao Irã, via ONU, obrigou que o país fizesse investimentos pesados em tecnologia, não só nuclear, “mas em muitas outras também”.
Hoje a terra dos aiatolás é dos países do mundo “que mais tiveram aumento de publicações científicas em todas as áreas”.
A Índia, o Paquistão e Israel produziram a bomba nuclear e são países “que têm problemas com os direitos humanos, e ninguém reclama”, diz o ministro Sérgio Rezende. Por que eles puderam desenvolver tecnologia nuclear e o Irã não pode? Israel, por exemplo, tem cerca de 200 ogivas nucleares e os EUA nunca se preocuparam com isto. Pelo contrário, ajudaram!
Diz o ministro sobre o Irã: “Vi medicamentos que eles desenvolveram sinteticamente, que nós não temos. Para o combate à Aids, por exemplo. Aqui [no Brasil], as empresas nacionais de fármacos foram sendo vendidas [no governo FHC quando Serra era o ministro da Saúde] para multinacionais e ficamos para trás”!
Desenvolver tecnologia nuclear é importante não só para a geração de energia, mas também para a produção de radiofármacos usados no tratamento de câncer. “O Brasil não possui um reator para a produção de radiofármacos. Temos de importar do Canadá” ou até mesmo da Argentina.
“O Brasil é um grande importador de matéria-prima para medicamentos e de componentes para eletrônica. Se não tivéssemos abandonado [por imposição do governo FHC] a microeletrônica na década de 90, não seria assim”. Dominar a tecnologia e criar condições para que ela chegue às linhas de produção demora vários anos. Felizmente o Brasil de Lula já começou a resgatar este projeto.
Em síntese, fica claro por que os EUA pressionam países como o Irã, Coreia do Norte e o Brasil para não desenvolverem tecnologia nuclear. Eles querem a eterna dependência dos mesmos da tecnologia do Primeiro Mundo. Demonizar os países que procuram desenvolvê-la é uma estratégia de dominação que países soberanos não devem aceitar jamais.

Emerson Leal – Doutor em Física Atômica e
Molecular e vice-prefeito de São Carlos.
E-mail: emersonpleal@gmail.com

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