quarta-feira, 14 de abril de 2010

'Serra me pediu para conversar com professores, mas não foi', diz Lula

"Qual não foi a minha surpresa quando no dia seguinte ele viajou, não conversou e mandou o seu secretário reunir com os professores, secretário que não os atendia”, afirmou o presidente.

O ex-governador de São Paulo, Josá Serra, disse em seu discurso durante o ato de lançamento da sua candidatura no sábado, no Centro de Convenções em Brasília, que “o governo deve ouvir a voz dos trabalhadores, dos servidores públicos e dos profissionais de todas as áreas”. Exatamente o contrário do que fez recentemente, às vésperas de sair do governo paulista, quando se recusou a negociar com as lideranças do professorado paulista, que teve que ir à greve por reajuste salarial. Serra saiu do governo sem conversar com eles e jogou a tropa de choque contra os professores, numa das manifestações, levando vários deles para o hospital com ferimentos graves. Outros foram presos.O presidente Lula no ato em São Bernardo, no sábado, relatou, inclusive, que, quando esteve em Tatuí (SP) dias atrás, o então governador José Serra lhe solicitou que intercedesse junto aos professores paulistas que se encontravam em greve. Serra se comprometeu a conversar pessoalmente com os professores, mas depois descumpriu a promessa e colocou o secretário de Educação, Paulo Renato Souza, para receber os docentes. “Eu vim para cá e o nosso querido companheiro Edinho [Silva, presidente do PT-SP] ligou para o governador Serra. Eu assumi o compromisso de conversar com a Apeoesp [sindicato dos professores]”, disse Lula.“Eu tinha dito para o Serra: conversa você diretamente com o Sindicato, não deixa o teu secretário de educação conversar. Eles não querem muito, eles querem fazer um acordo. O Edinho ligou para o Serra e me informou que este iria conversar com os professores. Conversamos com a Bel [Maria Izabel Azevedo Noronha (Bebel), presidente da Apeoesp] e fui embora tranqüilo de que o governador iria chamar os professores para conversar. Qual não foi a minha surpresa quando no dia seguinte ele viajou, não conversou e mandou o seu secretário reunir com os professores, secretário que não os atendia”.Com outras categorias que lutam por reajuste nos seus salários arrochados aconteceu o mesmo, como os policiais civis. Em greve por melhores salários, entre setembro e outubro de 2008, a tropa de choque foi acionada contra uma manifestação dos policiais civis deixando um saldo de 25 feridos. Serra se negou a negociar com a categoria sob a já vulgar alegação de que o movimento era “político”.No entanto, Serra escondeu tudo isso, como se ninguém se lembrasse desses tristes episódios, e pintou um quadro azul do seu modo gentil e fraterno de governar se dizendo “homem do diálogo” e vítima das “falanges do ódio”. Não dialoga e não dialogou com ninguém, nem com seus próprios aliados. Aécio Neves que o diga.Prosseguindo, Serra disse que “quem governa deve acreditar no planejamento de suas ações”. O desabamento de duas vigas gigantes de um viaduto do rodoanel, que destruiu automóveis e caminhões, ferindo três pessoas, o planejamento do próprio rodoanel - que depois de tantos anos de planejamento tucano só teve dois quartos de seu traçado inaugurado - o atraso na expansão do Metrô e outros são as provas do seu magnífico “planejamento”. Ou será que como exemplo de planejamento ele está se referindo às inúmeras praças de pedágios que proliferaram no seu governo nas estradas de São Paulo e que revoltam os paulistas com suas tarifas altíssimas?Na platéia do ato, uma pessoa se destacava pela empolgação com o discurso do tucano. Era Eliane Catanhede, representando a “Folha de S. Paulo”. Ela quase entrou em êxtase com a fala de Serra. Disse que o PSDB agora estava parecendo “um partido de massas”. Mas fez questão de lembrar que um tucano a corrigiu: “massas sim, mas massas cheirosas”.Na plateia do evento estava presente o deputado cassado e réu confesso por roubo de dinheiro dos Correios, Roberto Jefferson, que declarou seu apoio a Serra. A baixa foi do ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (ex-Dem), que antes do escândalo da propina era supercotado para ocupar a vice na chapa de José Serra. Arruda só conseguiu sair da prisão na segunda-feira (12) por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ).Por fim, Serra fechou com chave de ouro o evento: saiu do edifício do centro de convenções pela garagem, deixando seus correligionários decepcionados, enquanto Aécio monopolizava os holofotes no recinto.

Publicado na Hora do Povo, edição 2.854

Nenhum comentário: