quinta-feira, 4 de março de 2010

Walter Alfaiate e a eternidade do samba


Cantor e compositor de altíssimo nível, sambista comprometido com o resgate da cultura popular, o carioca Walter Alfaiate faleceu no último sábado (27), no Rio de Janeiro, aos 79 anos.

O artista começou no coral do Colégio Mendes Viana, em Botafogo, e aos 13 anos iniciou seus trabalhos de alfaiataria, “profissão que passou a fazer parte do nome e do samba”. Autodidata e garimpeiro da boa música, compôs para blocos carnavalescos da região, como o Foliões de Botafogo e o São Clemente, tendo participado das rodas de samba no Teatro Opinião nos anos 60 e formado vários grupos, como os Reais do Samba (1968) e Os Autênticos, entre os anos de 1966 e 1968, integrado também por Noca da Portela, Adélcio Carvalho, Eli Campos e Mauro Duarte. Apesar de ser um dos bambas do bairro que tornou-se referência de bons compositores, seu trabalho só veio a ganhar dimensão na década de 70 quando Paulinho da Viola gravou três de suas canções – “Coração Oprimido”, “A.M.O.R.Amor” e “Cuidado, Teu Orgulho Te Mata”. Desde a década de 1980 integrava a ala de compositores da Portela.

Reverenciado pela maioria dos sambistas do Rio, nunca teve espaço nas “grandes” gravadoras. Em seus 50 anos de carreira e com 200 sambas compostos, gravou apenas um disco em vinil, “Olha Aí”, lançado em 1998 pelo selo Alma e produzido por Aldir Blanc e Marco Aurélio. Entre a discografia em cd encontram-se Tributo a Mauro Duarte (Gravadora CPC-UMES, 2005) e Samba na medida (CPC-UMES, 2003). Este último trabalho levou Walter Alfaiate a vencer do Prêmio Rival BR de Música como melhor cantor.

No disco Sincopando o Breque (CPC-UMES, 1999), Nei Lopes entoa “Samba na medida”, cantando assim: “Mano Walter Alfaiate, parceiro e amigo fraterno/ escreve ai no teu caderno/ Eu quero fazer um terno caprichado no arremate/ Com um corte bem moderno, num pano verde-abacate/ Com botões cor de tomate, meio outono - meio inverno”. E mais, para enfrentar os combates “mais bacana e mais moderno/ Tu tens que fazer um terno, lá no Walter Alfaiate/ um terno de alto quilate, pra casório, pra boate/ e até para operação resgate”. Uma verdadeira operação resgate do samba. Dos bons.

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