terça-feira, 2 de março de 2010

Ilhas Malvinas e o desprezo inglês pela ONU

A disputa pelas Malvinas –ou Falkland para os ingleses – entra mais uma vez na ordem do dia. Antes de comentar a atitude imperial e de desprezo a resoluções da ONU pela Inglaterra, resgatemos um pedacinho da história.

As ilhas foram descobertas em 1520 pela Espanha. No século XVIII pescadores franceses de focas e leões-marinhos, que a usavam como base, batizaram-na de “Malouines”. Na seqüência, os franceses ocuparam-na e fundaram Port-Louis na ilha Soledad. Sob os protestos da Espanha, a França reconheceu os direitos espanhóis. Em 1746 foram os ingleses que invadiram as ilhas, fundando Port Egmont. Contudo, tiveram que devolvê-las à Espanha em 1767 em troca de 24 mil libras.

O primeiro governador das Malvinas foi designado logo após a independência da Argentina. Vernet, o segundo governador, teve de enfrentar em 1831 o primeiro conflito sério ocorrido no local. Dois barcos pesqueiros norte-americanos foram apreendidos por pesca ilegal. Pouco depois, uma esquadra dos EUA, que visitava países da América do Sul, ‘vingou-se’, destruindo todas as casas e instalações militares de Puerto Soledad.

Em 3 de janeiro de 1833 uma corveta inglesa desembarcou algumas dezenas de colonos nas ilhas. A pequena guarnição Argentina não teve mínimas condições de reagir à invasão. Desde então a Inglaterra ocupa as Ilhas Malvinas, usurpadas ao povo argentino. Importante salientar qual foi a decisão do Comitê de Descolonização da ONU, reunido depois da 2ª. Guerra Mundial.

Primeiro: o Comitê das Nações Unidas estabeleceu que o princípio de autodeterminação dos povos não seria acatado, “pois seus habitantes eram cidadãos britânicos, diretamente dependentes da Metrópole”; segundo: estabelecia-se o “reconhecimento da soberania Argentina como única solução jurídica válida”. A Inglaterra jamais acatou tal resolução e permanece ocupando as ilhas até hoje.

A Argentina tentou recuperá-las na Guerra das Malvinas em 1982. Foi derrotada pela Inglaterra – com o apoio logístico dos EUA e da França – que tem reafirmado a determinação de não obedecer à deliberação da ONU.

Àquela época escrevi um artigo chamando a atenção para o fato de que já se sabia da existência de reservas gigantescas de petróleo na plataforma continental das Malvinas. A questão é que sua exploração ainda não era economicamente viável. Disse ainda que a Inglaterra jamais abriria mão destas riquezas.

Hoje, junto com o anúncio de que as reservas de petróleo ali são, no mínimo, de 60 bilhões de barris (!) (próximas às do pré-sal brasileiro), surgem empresas petrolíferas multinacionais para a exploração desta riqueza em mais um desrespeito da Inglaterra aos acordos internacionais.

Cristina Kirchner já obteve a solidariedade de 33 dirigentes latino-americanos na reunião de cúpula do Grupo do Rio, exigindo que a Inglaterra respeite a Resolução ONU sobre a soberania das Ilhas Malvinas. Lamentavelmente, ao que tudo indica, este organismo internacional será mais uma vez desmoralizado, a exemplo do que faz recorrentemente Israel, que sempre se lixou para resoluções da ONU sobre a questão Palestina. E tudo fica por isso mesmo. Fica?

Emerson Leal – Doutor em Física Atômica e Molecular e vice-prefeito de São Carlos.

E-mail: emersonpleal@gmail.com

FEV/2010.

Nenhum comentário: