sábado, 13 de novembro de 2010

CPC-UMES estreia montagem de Bertold Brecht

Diálogo através da arte. Essa foi a forma escolhida pelo Centro de Cultura Popular 8 de Março para dar forma, cor e som ao desejo da juventude brasileira de descobrir sua identidade cultural. Criado há 14 anos, por iniciativa do cineasta Denoy de Oliveira, o CPC busca garantir os direitos da juventude no acesso e na produção cultural.

No último dia 29 de outubro o centro estreiou mais uma produção: a peça Santa Joana dos Matadouros, de Bertold Brecht, com direção de José Renato. A escolha se deu, entre outras questões, pela atualidade do tema da peça. Embora esteja ambientado na Chicago do início do século XX o enfoque econômico/social guarda grande semelhança com as crises econômicas e os valores atuais.

Com um elenco de 17 atores e atrizes, além de três músicos, a peça — que trata das tensões entre capitalistas e das agruras vividas pelos trabalhadores de Chicago durante o inverno e no auge da crise econômica de 1929 — teve grande sucesso de público e crítica na primeira temporada, nos meses de junho e julho deste ano. O autor coloca em cena os mecanismos que levam à degradação da economia: superprodução, falta de mercado para escoá-la, especulação e aumento da exploração, o que, por sua vez, leva à exacerbação das tensões com mais quebradeira, mais fome e produz seu oposto; os movimentos operários contra as duras condições impostas aos trabalhadores.

A professora de teoria literária, Iná Camargo, pesquisadora da obra de Brecht, à saída de uma das encenações destacou: “Dá gosto de ver! É a primeira encenação desde que se instaurou a crise e isso mostra uma capacidade de apreensão da realidade que é impressionante”. “A peça mantém sua atualidade diante das necessidades de saída justa para a crise que enfrentamos nos dias de hoje”, completou. Para o diretor José Renato este é “um espetáculo vivo, criado, em sua maioria, por atores jovens e motivados, e, por isso mesmo, polêmico e sujeito a alterações criativas”.

Gabriel Alves, representante do CPC no Conselho Nacional de Juventude (Conjuve), falou com o juventude.gov sobre a montagem e o envolvimento do CPC 8 de Março com a peça. Confira:

Como se deu a escolha do espetáculo e do diretor?

Escolhemos o espetáculo “Santa Joana dos Matadouros” por se tratar de um espetáculo extremamente atual. apesar de Brecht ter escrito a peça há cerca 80 anos. O espetáculo retrata conflitos ocorridos nos matadouros de Chicago no auge da grande depressão de 1929, mostra como os grandes empresários da carne, para salvar seu couro e seu bolso, repassam os prejuízos aos trabalhadores e se aproveitam da oportunidade para “com muita classe balançar a corda do vizinho” e aumentar seu monopólio com a incorporação de outras empresas. Tudo igual ao que se passa hoje nos grandes centros capitalista. O conflito se desenvolve em enredo brilhante e aguerrido como é da tradição dos textos de Bertolt Brecht.

Esses elementos nos levaram a decidir pela peça, a decisão de buscar José Renato para dirigi-la foi natural e automática, afinal ele é um dos principais nomes do teatro nacional, profundo conhecedor da obra do autor e tem em seu currículo várias montagens de seus textos, um deles (Turandot) inclusive foi produção nossa.

Qual a relação da temática com o universo juvenil?

Na busca pela saída da crise os monopólios buscam repassar a toda sociedade os seus prejuízos, basta ver como a população dos países mais atingidos por ela tem sofrido seus efeitos. E aqueles que possuem menos dinheiro e se encontram nos postos de trabalhos mais precários são exatamente os que mais sofrem, pois o pouco que lhe resta é tirado. Nessa situação os jovens são sem dúvida os mais atingidos e isso pode ser comprovado pelo recente estudo da OIT (Organização Internacional do Trabalho). Portanto devemos buscar compreender a crise, entender como ela surgiu e enfrentar o mal em sua raiz. O jovem deve estudar para conhecer isso, por isso a temática tem ligação com universo juvenil e também com o interesse de toda a sociedade, uma vez que a ação dos monopólios tem prejudicado a todos.

No release o diretor fala de atores “jovens e motivados”. Como foi feita essa seleção?

Para a seleção dos atores partimos de um grupo de atores que já trabalharam conosco, com isso resolvemos uma parte do elenco. Depois buscamos a partir das relações de cada artista, dos membros da Cooperativa Paulista de Teatro e do conhecimento de José Renato preencher as outras vagas do espetáculo. São 17 atores e três músicos, em sua maioria jovem, mas acima de tudo atores com experiência teatral e capacidade artística.

Em sua opinião qual o papel da cultura e do estímulo à produção cultural na formação da identidade dos jovens brasileiros?

A cultura como elemento chave da construção da nacionalidade é fundamental na construção da identidade dos jovens brasileiros. Não é possível pensar em uma nação livre e saudável formada por um coletivo de cidadão despersonalizados e dependentes. A cultura é responsável por construir o imaginário, em mobilizar os sentimentos do povo e essa construção não se alcança por uma cultura enlatada, pasteurizada e exportada em baús pelas grandes multinacionais. O Brasil deve investir cada vez mais da produção cultural, mas também garantir a circulação do que é produzido por nós e principalmente na defesa dos espaços da cultura nacional nas rádios, tevês, cinemas, teatros e outros equipamentos culturais país afora. Investir na cultura e defende-la é garantir a identidade de nossa juventude.

Ana Cristina Santos
Ascom/Conjuve

SERVIÇO:

“Santa Joana dos Matadouros” fica em cartaz todas as sextas e sábados, às 21h e domingos, às 20h no Teatro Denoy de Oliveira, Rua Rui Barbosa, 323, Bela Vista, São Paulo (SP).

Para contato: (11) 3289-7475.

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