segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Mais uma sessentona: Para comemorar aniversário UPES lança projeto memória.

No último sábado (26), dia seguinte ao que a UBES completou seus 60 anos, a União Paulista dos Estudantes Secundaristas celebra a data e relembra sua história de lutas com o projeto Memória 60 da UPES

São 60 anos em defesa da educação e da juventude. 60 anos de lutas para a construção de um Brasil democrático. Assim pode ser resumida a história da União Paulista dos Estudantes Secundaristas (UPES). De presente, a mais nova entidade a se tornar uma sexagenária, ganhou um projeto para contar sua trajetória.
Trata-se do projeto Memória 60 da UPES, coordenado pela jornalista Amira Abboud Pompêo de Camargo. Amira, que foi diretora de comunicação da entidade em 1998, recebeu o convite da atual gestão para tocar o projeto. "Na época em que militei já acalentava o sonho de recuperar a história da UPES, como forma de dar minha contribuição. Mostrar aos estudantes que a história é construída por pessoas, e precisa ser humanizada. Penso que essa é a forma mais eficiente de aproximar a juventude da trajetória de lutas dessa entidade. Sem memória, não há história", disse.
A jornalista campinense de 27 anos informou ainda que o objetivo do projeto é produzir um vídeo documentário que deve ficar pronto até o fim deste ano. "Estamos entrevistando todos os ex-presidente da UPES, ex-diretores e coletando imagens da época. Faremos também uma sessão de extras orientando passo a passo a construçaõd e grêmios e demais entidades estudantis. Queremos que esse trabalho, além de resgatar a história da entidade, dê continuidade a ela".
A cada quinze dias, Amira produzirá um texto contando os principais acontecimentos desses 60 anos que será publicado aqui no EstudanteNet. "Nós apenas começamos", reforça Amira. Abaixo a íntegra do primeiro texto, que apresenta, em linhas gerais, a atuação da UPES na sociedade brasileira.
União Paulista dos Estudantes Secundaristas comemora 60 anos de luta
Ao digitar no Google "Brasil em 1948", milhares de páginas apontam diversos acontecimentos de 1948 que marcaram parte da história do nosso país. Em janeiro, a lei federal no 211 cassou o mandato de todos os parlamentares comunistas, em julho Ernesto Geisel foi promovido a Tenente-coronel do Exército Brasileiro, ainda no mês de julho foi fundada a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em outubro, Cacilda Becker estréia no Teatro Brasileiro de Comédia em São Paulo. Nesse mesmo ano, o mundo todo direcionou seus olhares para Londres, que foi palco das Olimpíadas, após doze anos de interrupção devido à II Guerra Mundial.
Em meio a tantos acontecimentos noticiados nas páginas de grandes jornais, um fato registrado apenas pelo serviço secreto do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), reflete uma das maiores conquistas dos estudantes secundaristas do Estado de São Paulo: A Fundação da União Paulista dos Estudantes Secundaristas (UPES).
Há 60 anos, um grupo de secundaristas, idealistas e preocupados com os rumos da educação no Estado de São Paulo, realizaram entre os dias 26 e 29 de julho de 1948, a 1ª Convenção dos Estudantes Secundários do Estado de São Paulo, espaço que serviu para que jovens estudantes de todo o Estado fundassem, a Associação dos Estudantes Secundários do Estado de São Paulo, que dois anos depois é rebatizada, e passa a chamar-se definitivamente de União Paulista dos Estudantes Secundaristas.
Araripe Serpa foi escolhido para presidir a entidade, João Pessoa Albuquerque, foi o primeiro vice-presidente da UPES, que naquele momento era composta ainda pelos estudantes: Nelson Guarnieri Lara, Geraldo Souza e Francisco Rocha Morel.
Pouco mais de um ano depois de sua fundação, em 29 de outubro de 1949, é realizado o Congresso Paulista dos Estudantes Secundários, na Escola Normal Caetano de Campos, que contou com a presença de cerca de 80 estudantes. Na ocasião, estudantes anticomunistas partem para agressões físicas, e o congresso teve que ser transferido para Associação dos Profissionais de Imprensa de São Paulo, na Rua da Consolação.
A UPES e o golpe miltarAté 1964, a UPES teve importante atuação entre os estudantes, "A UPES na ocasião estava empenhada, por um lado, em organizar os estudantes em todo o Estado, através de seus grêmios e outras organizações similares; por outro, em conscientizar os estudantes da realidade brasileira, isto é, queríamos que os estudantes tomassem consciência das desigualdades e dos problemas sociais e econômicos vividos pelo país. Como todo o período se politizou muito, em seguida, a UPES passou a defender, junto com a UEE (União Estadual dos Estudantes universitários) e com vários sindicatos de trabalhadores, as reformas de base defendidas pelo governo Goulart, ou seja, reforma urbana,reforma agrária, reforma universitária, reforma da saúde. Essas atividades eram desenvolvidas através de um programa denominado UPES Volante, que viajou o estado inteiro, quando tive oportunidade de fazer palestras em inúmeros colégios" afirma José Álvaro Moisés, presidente da entidade eleito em 1963. No entanto, de acordo com Moisés, toda essa atuação cessou em 1964 com o golpe de Estado dado pelos militares brasileiros contra o governo constitucional do presidente João Goulart, do PTB.
Em 1967, clandestinamente, os estudantes voltam a se organizar no Estado de São Paulo e Antônio Guilherme Ribeiro Ribas, conhecido apenas como Ribas, é eleito Presidente da UPES. Naquele momento, apesar de toda a repressão, os estudantes não recuavam e realizam diversas atividades, de acordo Fernando José Cardim de Carvalho, estudante e militante no Colégio CEDOM, o grande debate da época no movimento estudantil eram sobre a importância relativa dos objetivos nacionais, como o fim da ditadura, e das demandas específicas dos estudantes, como melhores condições de ensino. "Entre os militantes, havia um enorme companheirismo, gerado especialmente pelo sentimento compartilhado de que, de algum modo, estávamos fazendo história. Este sentimento é muito marcante e permanece com você para sempre. A idéia de que nós estávamos lá, que 1968 não é algo de que ouvimos falar, mas algo que nós fizemos, certo ou errado" declarou Carvalho.
Carvalho, afirmou ainda que, esse foi um período em que muitos erros foram cometidos, que custaram a vida de muitos companheiros em sua juventude. Esse é o caso, de Ribas, então Presidente da UPES, preso ainda durante sua gestão, no Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) em Ibiúna. Após sair da prisão, Ribas entrou na clandestinidade, mudou-se para o Rio de Janeiro, e pouco depois tornou-se guerrilheiro na região do Araguaia, onde, foi assassinado pelos militares.
Com o afastamento de Ribas, foi realizado ainda em 1968, um novo congresso da UPES, onde Marcos Palácios foi eleito novo presidente da entidade, no entanto, com o aumento da repressão, a UPES foi obrigada mais uma vez a cessar suas atividades.
A UPES é reconstruídaDécada de 80, início do processo de abertura política no país. O ano de 1982 foi marcado pela reconstrução UPES. Com a participação de 46.700 estudantes, Henrique Soares Carneiro, foi eleito Presidente da entidade, que pela primeira vez elegeu seus dirigentes por meio de eleições diretas.
Foi ainda na década de 80 que a UPES teve sua primeira Presidenta.
A UPES na década de 90Passando por problemas estruturais, mais uma vez a UPES passa por um período difícil na primeira metade da década de 90, até que em 1996, o município de Mauá, na região do grande ABC, é palco de mais um Congresso de reconstrução.
João Eduardo Gaspar é eleito Presidente, a UPES conquista uma sede na Vergueiro, e mais uma vez, se posiciona em defesa da educação e dos estudantes paulistas.
Com o slogan "Nós Apenas Começamos", é eleito Presidente da entidade em 1998, em Indaiatuba, interior do Estado, o estudante Emerson Martins, reeleito em 1999 em Marília, para mais uma gestão.
A UPES na mudança de séculoAno 2000, enquanto muitos dizem que a juventude do novo século é apática e despolitizada, os secundaristas do Estado de São Paulo, mostram que não brincam em trabalho.
A UPES do século XXI acumula a cada dia mais gás e disposição. "Apesar de todos que tentaram calar a voz dos estudantes, a UPES sempre conseguiu achar uma nova maneira de superar os desafios colocados. Quando olhamos para a história da entidade, notamos que a luta e a garra de milhares de estudantes valeu a pena, e quando cada um de nós, atuais dirigentes da UPES, acordamos e iniciamos mais um dia de luta, vislumbramos que a perspectiva de construção de um sonho ainda vive", afirma Arthur Herculano, atual presidente da UPES.
Em 60 anos, apesar das dificuldades enfrentadas, a UPES acumula vitórias em todo o Estado de São Paulo, e hoje, mais do que nunca, comemora, afinal são 60 anos de lutas.
Aos 60 anos, nós apenas começamos!


Amira Abboud Pompêo de Camargo
Jornalista e responsável pelo projeto de Memória da UPES

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