quinta-feira, 7 de maio de 2009

Lula no 1º de Maio: "O Pré-sal é a segunda independência do Brasil."

No Dia do Trabalhador, o primeiro barril de petróleo do super campo de Tupi.

O presidente Lula iniciou seu discurso no ato comemorativo da extração do primeiro barril de óleo na camada pré-sal, realizada no dia 1º de maio, no Rio, homenageando o vice-presidente, José Alencar. Entregou a ele a miniatura de um barril, simbolizando a conquista do pré-sal. “Eu acho que você merece ter este troféu, que é o troféu de uma nova era na vida da Petrobrás e na vida do nosso país”, disse Lula. O barril chegou até o presidente depois de passar solenemente pelas mãos de lideranças de entidades que participaram da luta do petróleo no Brasil. Foi conduzido também por artistas, desportistas, trabalhadores, personalidades e diretores da estatal. Participaram também a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), os ministros Edison Lobão (Minas e Energia) e Franklin Martins (Comunicação Social), o governador do Rio, Sérgio Cabral, e do Espírito Santo, Paulo Hartung, o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, além de senadores, deputados e lideranças políticas de vários partidos e entidades.“Este é um momento que é uma nova era. Nós não sabemos ainda tudo o que tem lá embaixo, não sabemos o que vamos enfrentar de adversidades para poder explorar esse petróleo, mas, a verdade é que, passando na ressonância, o filho está perfeito, ou seja, não há nenhum problema até agora”, avaliou. O problema que aparecer lá, nós mandamos o Estrela – que inventou a história de 168 milhões de anos”, disse Lula. “Temos que fazer um robozinho com a cara do Estrela para descer lá embaixo e resolver”, brincou o presidente.Ele contou a história do pré-sal. “Em um belo dia de 2006, estou no meu gabinete e me liga o Gabrielli dizendo que precisava ir a Brasília para conversar comigo. Aí, chegam ele e o [Guilherme de Oliveira] Estrela (Diretor de Exploração e Produção). Abriram um mapa na minha frente, com uns negócios coloridos, e começaram a falar uns nomes que eu não entendi e não decorei. Começaram a mostrar a separação do Continente Africano do Continente Sul-Americano, e foram mostrando, foram mostrando, 90 milhões de anos, 70 milhões de anos, 50 milhões de anos... Eu só tenho 60, e já acho que estou velho. Os caras ficam falando em milhões de anos e queriam que eu entendesse. E falaram: “Aqui tem petróleo que está a dois, três, quatro mil metros de profundidade. Você não conta para ninguém, hein? Isso é segredo!” Eu, como de hábito, não contei para ninguém, mas alguns dias depois, estava no jornal. Como só estávamos eu e os dois, alguém deve ter falado. Eu tenho consciência de que eu não fui”, disse.Lula falou que se sentiu “um homem frustrado” por não ter ido à plataforma acompanhar a extração do óleo. “Sonhávamos que um porta-aviões pudesse levar do mais simples ao mais graduado para ver esse petróleo. Mas o porta-aviões estava na manutenção. País pobre é assim”. “Esperei um ano por isso. Mas começaram a dizer que a plataforma balança, que o tempo estava ruim, para me persuadir a não ir”.“Não tínhamos que perder tempo para explorar esse petróleo. Primeiro, porque isso dá uma certa grandeza ao Brasil nas suas negociações bilaterais e multilaterais. Segundo, porque isso coloca o Brasil com uma respeitabilidade maior do que um país que tem pouco petróleo”, disse Lula. “Terceiro, porque vai garantir que a Petrobrás se afirme muito mais como empresa primeira no mundo a aperfeiçoar a mais importante tecnologia de prospecção de petróleo em águas profundas”, prosseguiu. “Quarto”, acrescentou, “porque vai permitir que a gente possa discutir, sem nenhuma paixão desvairada, mas discutir com paixão e racionalidade o que nós queremos desse petróleo”. “Não tem nenhum país no mundo que encontrou grandes reservas de petróleo, que não tenha mudado a regulamentação do petróleo”, frisou. “Outra coisa extremamente sagrada com esse petróleo”, disse Lula, “é que nós estamos vendo surgir, ou ressurgir, os brasileiros que acreditam no Brasil. Se vocês pegarem os editoriais de jornais importantes na década de 50, dando cacete no Getúlio Vargas e na Petrobrás, por conta da Petrobrás, é a mesma coisa de a gente estar vendo os discursos dos defensores do Consenso de Washington”. “É aquele discurso meio fajuto, que fala que o Estado não vale nada. Que o trabalhador, funcionário publico, todos ganham demais e são marajás. Que fala que pagar o salário do trabalhador é aumentar o gasto e que o mercado resolve tudo”, prosseguiu.“A Petrobrás é aquela musa que a gente carrega para mostrar o sucesso do Brasil. E se vocês não tivessem brigado tinha gente que queria privatizá-la. Aliás, tinha gente que queria mudar o nome dela”, lembrou. “Então, quando a Petrobrás, no dia 1º de maio de 2009, apresenta ao mundo a prospecção e a retirada do primeiro barril de petróleo do pré-sal, isso tem um significado de uma transcendência incomensurável”. “Vocês gostaram? Transcendência e incomensurável juntos? Ô gente, nem estou acreditando que sou eu aqui falando... Eu já falei concomitantemente, daqui a pouco vou falar en passant, daqui a pouco vou falar condição sine qua non, e vai por aí afora. Para quem tomou posse falando menas laranja, está chique demais”, brincou Lula. E prosseguiu: “Neste país, o que faltou durante muito tempo, é a gente ter dado continuidade às pessoas que acreditaram em nós. Vamos ser francos: se não fosse o Marechal Rondon acreditar que era possível viajar por este país, ver seus companheiros morrerem de malária, a gente não tinha aberto a quantidade de telégrafos que nós colocamos neste país. Durante um tempo nós fomos conduzidos ou induzidos, doutrinariamente, a achar que nós não éramos nada”. “Este país conquistou outra vez o direito de gostar de si próprio, o direito de achar que o povo brasileiro é competente, é inteligente, que tem potencial de competir com qualquer coisa no mundo”, afirmou Lula.Ele contou que quando indicou Eduardo Dutra para ser presidente da Petrobrás, o pessoal dizia assim: ‘O mercado não vai gostar’. “Mas o que é o mercado?”, indagou. “Alguém já fez campanha pedindo voto para o mercado? A gente pede voto é para o povo, a gente pede voto é para o eleitor”, prosseguiu, lembrando que nomeou Dutra e Gabrielli e deu tudo certo.“Eu acho que essa descoberta é a segunda independência do Brasil”, disse Lula. “Já me chamaram para a Opep. Eu digo que não tenho nenhuma paixão de entrar. Até parece que a Opep não tem o poder que a gente pensa que tem porque, quando o preço aumenta, ela diz que não é ela. Quando baixa, ela diz que não é ela. Então, o que ela pode? O mercado futuro decide mais do que a Opep”, disse Lula. “Eu perguntava para os companheiros: por que o petróleo está a US$ 150 o barril? ‘Por causa do consumo da China’. Agora teve essa crise econômica. A China continua consumindo e o petróleo caiu de 150 para 40. E aí você pergunta: “Agora não é mais a China. Quem é, então?” “Foi a especulação no mercado futuro, junto com o subprime, que levou o mundo a essa crise que nós estamos vivendo. A lição que nós tiramos disso é que a riqueza do mundo tem de estar, concomitantemente, ligada à produção de alguma coisa, e não na transferência de papéis via computador, que não gera emprego, que não gera um parafuso, que não gera um papel, que não gera absolutamente nada”, completou. “A grande lição da economia do século XXI não foi dada pelo fracasso de nenhum país emergente. Ela foi dada exatamente pelos pós-graduados da economia mundial que sabiam tudo quando a crise era na Bolívia, quando a crise era no Brasil e que agora que é no quintal deles, não sabem nada”.Lula reforçou que “o Brasil desaprendeu de gostar de si próprio”. “É o cinema estrangeiro que é melhor, é a música estrangeira que é melhor, é a cerveja que é melhor, é o petróleo que é melhor. Não é possível que um país possa crescer se ele não acredita em si próprio”. “Depois que eu andei este mundo, não tem nada melhor do que ser brasileiro. O que tem de atraso, é porque durante 450 anos nós fomos colonizados ideologicamente, economicamente e intelectualmente. Então, gente, Petrobrás, vocês são os caras. Um grande abraço a todos”, concluiu.

Publicado na Hora do Povo, ediçõa 2.762

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