terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A Folha de S. Paulo e o golpe em Honduras

A Folha de S.Paulo, em seu editorial de 29/01/2009 (Lições de Honduras), teve uma triste recaída antidemocrática. Pior que isso só mesmo o epíteto de “ditabranda” inventado pelo jornalão para o regime de arbítrio da ditadura implantada em nosso País através do golpe de 1964.
Quem leu aquele insólito editorial, há de concordar comigo. O subtítulo já apontava para o que estava por vir: “Diplomacia brasileira sai de mãos vazias e com a imagem arranhada após desfecho da crise com a posse de Porfírio Lobo” – „Mãos vazias‟? Como assim?
A FPS tenta transformar a atitude politicamente correta e justa do governo federal, de dar asilo político ao ex-presidente Zelaya – que foi apeado do poder por um golpe de estado articulado pela oligarquia hondurenha e inspirado, ao que tudo indica, pelo Departamento de Estado norteamericano –, em erro crasso da diplomacia e da política externa brasileiras.
Em momento algum a Folha classifica o golpe militar que ocorreu em Honduras de „golpe’ e tergiversa sobre a proposta que Zelaya estava submetendo ao seu povo; esconde que a verdadeira causa do golpe foi o fato de o presidente deposto, antes um político que fazia parte do sistema oligárquico e excludente hondurenho, ter mudado de lado e estar avançando no sentido de um governo mais sintonizado com os interesses nacionais e populares.
A Folha de S. Paulo finge que não entendeu o movimento e as contradições explícitas do governo dos EUA na articulação do golpe, nem como tudo isto está relacionado com a tentativa de reversão de um quadro político latino-americano, que consiste em fazer abortar a possibilidade de forças nacionais, democráticas e populares assumirem o comando de seus respectivos países.
A FSP chega ao ridículo de criticar o governo Lula por ter concedido abrigo a Zelaya e por considerar que tal apoio teria “chegado perto de uma ruptura do princípio de não ingerência tradicionalmente observado pelo Brasil”.
O absurdo de tal assertiva beira o paroxismo: o fato de a Folha adotar o lado dos golpistas e usurpadores do poder é um direito que lhe assiste. Mas daí a exigir que o governo brasileiro faça o mesmo, é uma piada de extremo mau gosto.
A subalternidade do jornalão aos interesses norte-americanos é tamanha, que além de vários outros impropérios políticos, sai ainda com esse: “O papel real de mediador terminou exercido pelos EUA, que costuraram o acordo para a realização de eleições livres”. Ora, como qualificar de livre uma eleição que (nos moldes das eleições “livres” realizadas no Iraque e no Afeganistão) ocorre sob a mira dos fuzis do exército golpista hondurenho e da qual metade da população não participa?
Presidente Lula, aqueles que sonham com uma América Latina livre, democrática e soberana, saúdam sua determinação no enfrentamento desse triste atentado contra a democracia em Honduras e na América Latina.

Emerson Leal – Doutor em Física Atômica e
Molecular e vice-prefeito de São Carlos
E-mail: emersonpleal@gmail.com

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